Há grande buchicho entre profissionais da saúde sobre uma nova medicina altamente tecnológica. Prevê-se que em breve contaremos com o aprendizado de máquina (machine learning), um cérebro eletrônico superior ao cérebro humano capaz de processar dados e tomar decisões à beira do leito no topo da excelência. Um residente na acepção da palavra com nível de catedrático.
A expectativa é que o médico poderá contar com melhor fundamentação para diagnósticos e condutas terapêuticas e preventivas pela integração entre o caso e um enorme banco de dados. O que centenas de gerações de médicos sempre perseguiram, agora exponenciado. Tornará despropósito manter o pensamento clássico de William Bart Osler (1849-1919): Medicina é uma ciência de incerteza e uma arte de probabilidade. Devemos aplaudir… e usufruir.
Evidentemente, teremos um período sabe lá de quanto tempo de heterogeneidade de disponibilidade da inteligência colaborativa de máquinas num Brasil continental. A formação do médico das próximas gerações incluirá as inovações no currículo, mas não poderá dispensar o aprendizado direto da medicina pelo cérebro humano.
A vivência dirá como se haverá a integração das inteligências de acordo com nossas realidades sociais, econômicas e culturais. A Bioética está atenta ao esperado ganho de benefícios e redução dos malefícios para os pacientes neste previsto admirável mundo novo. Também a dois outros aspectos capitais do ser médico: a curiosidade científica e a responsabilidade profissional. Não serão elas exclusivas do cérebro do Homo sapiens? Será que René Descartes (1596-1650) um dia imaginou que Penso, logo existo poderia de referir a uma máquina cartesiana, excessivamente racional e metódica?