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598- Procusto de roupa nova (Parte 1)

Conexão BLlivroEscondido, sigiloso, confidencial. Três palavras afins que habitam o domínio da ética do médico e despertam o interesse da Bioética da Beira do leito.

Evidenciar o diagnóstico escondido, repelir qualquer visão de conhecimento tecnocientífico sigiloso e respeitar a tônica confidencial da relação médico-paciente são, de fato, tradicionais componentes do profissionalismo na beira do leito. Podemos presumir que tais termos serão mantidos desta forma nas próximas gerações futuras? Avalio que sim, mas sob muito duelo com novas ideias.

Pela óptica majoritária atual, perspectivas de uma beira do leito progressivamente resolutiva e humana sustentam-se numa prática centrada em evidências e vivências firmemente conectada à excelência de comunicação. Revelações de diagnósticos-chaves para subsidiar a decisão terapêutica com prognóstico beneficente, compartilhamentos do saber em dimensão globalizada pela literatura científica e leiga e não exposições da intimidade da pessoa pela seleção comunicativa são vacinas para a saúde da medicina contra crescentes panoramas de desalento sobre o futuro da humanidade, especialmente referidas a efeitos nocivos da tecnologia. Mas são vacinas de vírus vivo e, assim, exigem, certas competências imunitárias que estão sob potencial de frequentes auto-agressões – excesso de uso de máquinas bem me quer-mal me quer, por exemplo. Risco da virulência em saca-bocados sobre a credibilidade do médico acerca da eficiência de seus próprios órgãos dos sentidos.

Alicerce vigoroso para o futuro de humanismo respeitável da beira do leito é a força das tradições da medicina que resistiram ao passar dos séculos desde Hipócrates (460ac-370ac) de certa forma insensíveis a conflitos de natureza étnica e ideológica. Não importavam predomínios políticos e religiosos, a anamnese e o exame físico persistiram sem necessidade de se reinventarem, simplesmente por que não envelheceram qual o mitológico Atlas sustentando o mundo da clínica. As novidades e inovações respeitaram o referido binômio, assim, valendo-se das bases de  sustentação da medicina. Mas, será que a anamnese e o exame físico têm infinito prazo de validade? Suas imortalidades serão revogadas? E  se não revogadas, serão executadas por autômatos programados para serem mais assertivos?

Evidentemente, anamnese e exame físico têm seus limites de utilidade no contexto da medicina contemporânea, mas representam imprescindível triagem no universo de possibilidades mórbidas a que o ser humano está sujeito. Malgrado os benefícios, o rendimento do atendimento exige muito mais – e cada vez mais- e, assim, persegue-se um verdadeiro moto contínuo de originalidades exigentes da atenção da Bioética a fim de evitar atos de Procusto.

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