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574- Confiança é fator de autenticidade no consentimento

Conexão BLlivroO imperativo ético e legal do consentimento pelo paciente alinhado coma Bioética contribuiu para reduzir atitudes de indiferença do profissional da saúde sobre desejos, preferências, objetivos e valores em várias circunstâncias do atendimentos às necessidades da saúde. Ao mesmo tempo em que, assim, destacou que um ser humano constitui cada paciente, a exigência do consentimento sinalizou a este mesmo paciente que uma eventual inequívoca confiança no modelo de profissionalismo que o acolhe não significa postar-se numa total submissão obscura. Confio, logo consinto e Consinto, logo confio são expressões  “cartesianas” (René Descartes (1596 – 1650) que requerem um clima de liberdade de opinião e esforços para esclarecimentos sobre justificativas e expectativas acerca de diagnóstico, terapêutica e prognóstico.

Por isso, a preservação da confiança da sociedade no profissional da saúde em geral é capital para evitar um aniquilamento da credulidade do paciente na orientação tecnocientífica que poderia comprometer a naturalidade  de uma filtragem pessoal para o consentimento por afetar negativamente a individualidade do paciente no processo de tomada de decisão no ecossistema da beira do leito.

Deve-se entender, então, que o consentimento contemporâneo exigido ao paciente para a aplicação de um procedimento pelo médico não pode ser dissociado – mas não algemado- da velha confiança no profissional da saúde, claro, ajustado a direitos da cidadania e a salvaguardas contra eventuais distorções da previsibilidade de comportamento motivadas por narrativas de abusos profissionais no mundo real.

A interação entre consentimento e confiança, em seus várias intensidades, promove amplitudes de movimentos muitas vezes erráticos da vulnerabilidade do paciente acentuada pela doença em busca de um porto seguro surgido pelos esclarecimentos do médico, influencia o desenvolvimento no paciente de vontades para mover incertezas na direção de suposições de previsibilidades profissionais com graus de regularidade, desencadeia reações emocionais muitas vezes ambíguas do paciente em relação a percepção das intenções do médico e estimula apreciações do paciente sobre sinceridade de atos e palavras do médico. A confiança é fator de autenticidade no consentimento.

Se mentalizarmos uma escala de expressão do consentimento sob o impacto da confiança, teremos um extremo em que o consentimento é a sombra da confiança, o paciente não sente necessidade de fazer nenhuma análise da recomendação do médico. É comportamento que tem forte influência da personalidade e da cultura.

O outro extremo é constituído pela disposição pelo paciente de se debruçar ao exame ultra detalhado de todas as variáveis envolvidas, que, de certa maneira, congela momentaneamente qualquer grau de confiança que possa adrede existir num gélido bloco de racionalidades- e racionalizações.

Entre as pontas, graus de calibragens entre consentimento e confiança formam-se sob os influxos do livre-arbítrio do paciente (autonomia pessoal) e de opiniões de circunstantes (autonomia de relação).

Na chamada autonomia pessoal sobressai o livre-arbítrio, predomina vigorosamente a opinião do próprio paciente, ou o que se pode chamar de autenticamente dele, da constituição determinada por seus genes indutores de modos de reagir e pela memória dos encontros da vida que aconselha expansões ou limitações. É o paciente que se pode dizer que “se conhece a si mesmo”, independente, preparado para assumir tomadas de decisão complexas. A  afirmação do consentimento para o médico pode ser facilitada quando o profissional conhece o seu (dele paciente) modo de ser,  e, assim, direciona o modo de interlocução como elemento apoiador da confiança. Corresponde à velha empatia que contribui para a parceria e que muitos médicos de sucesso sabem tão bem como lidar. Vale ressaltar que já bate à porta uma ameaça ao livre-arbítrio de fato independente trazida pela tecnologia, pela inteligência artificial com o potencial de hackear os modos de ser de cada cidadão, conduzir o pensamento por meio de algum algoritmo construído de modo personalizado que, como já se disse, pode saber “mais sobre você do que você mesmo”. Neste contexto, a empatia do médico que dá um poder de comunicação facilitador da verbalização de um SIM aperfeiçoada pela inteligência artificial, por exemplo, na figura de um robô pode “esclarecer” com a melhor seleção de palavras e argumentos para o convencimento. A liberdade do consentimento em xeque!

Na chamada autonomia de relação, mais compatível com o mundo real do ecossistema da beira do leito, muitos pontos da escala são pontificados. Isto porque não faltam circunstantes para se superporem a “genes e memória” do paciente, exercendo impactos errantes- impositivos, acauteladores, apoiadores. Misturam-se graus pessoais de confiança e o significado de real autonomia fica abalado pelas influências heteronômicas. Neste caso, o robô poderá distinguir quais os pensamentos mais autênticos do paciente. A liberdade do consentimento em um cheque!

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