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538- Smartphone e a nuvem interposta na relação médico-paciente (Parte 1)

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Graduei-me em Medicina num tempo onde não era comum o paciente ter telefone fixo em casa. Passados 50 anos, qual é o paciente que não porta consigo o smartphone? Até atende uma ligação durante a consulta no meio da explicação do médico… Imediatismo é contagiante!

Smartphone cumpre a sua designação de aparelho esperto, há reforço permanente… e surpreendente.  Ele possui um potencial transformador que se mostra infinito sobre as relações interpessoais na sociedade em geral. A relação médico-paciente não poderia ter ficado imune.

É bem verdade que o extraordinário impacto provocou uma certa postura de imunização cognitiva dos meios profissionais na Medicina. Contudo, qualquer ideia de radicalismo conservador em nome do sigilo profissional tem se esvaído. A transmutadora rotina de todos nós é poderosa. A constatação de um serviço facilitador motiva outro e uma roda viva de agrados impressiona e captura os mais renitentes.

O médico, tradicionalmente, traz da Escola de Medicina vários clichês sobre ética profissional. Significa que ele se forma após passar seis longos anos aprendendo sem grande profundidade o então vigente sobre o bom e o mau na atitude profissional. Falta a prática. Já no mercado de trabalho, o jovem médico é levado pelo aceleradíssimo desenvolvimento tecnológico e as atualidades clamam pelos ajustes na formação. Por exemplo, a recente migração  maciça do paradigma do meio de comunicação médico-paciente não presencial desde o telefone fixo para o smartphone.

Objeto em extinção, o telefone fixo é um “órgão” fora do corpo da pessoa. O smartphone – o nosso celular- tornou-se um “órgão” – quem sabe um “sistema”- inserido com uma anatomofisiologia progressista, algo darwiniano. O smartphone respira, circula, digere, nutre, troca calor, pensa, ingere e excreta em consonância com a posse. Ele é um transmissor possuidor de uma dominação, uma dependência psicológica, pois exerce forças e sofre fraquezas, provoca êxtases, faz antecipações manifestas por ansiedades e reage por depressões.

A vida gira em torno do smartphone, inclusive a qualidade de vida e a sobrevida. Assim, não poderia ter sido diferente, este adestrado pombo-correio com a liquidez da pós-modernidade contaminou definitivamente as relações entre Medicina-médico e paciente/família. Exigente do bom senso no uso e de normas para evitar abusos. Incorporou-se como instrumento de trabalho e com crescente poder intercessor nas competências à beira do leito.

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