PUBLICAÇÕES DESDE 2014

514- Encontros e reencontros

Tomada de decisão clínica em Medicina ocorre num ato de encontro e, desta forma, deve ser estruturada levando em conta a conexão estabelecida, classicamente nomeada como relação médico-paciente. A ética médica é tradicionalmente rigorosa sobre a obrigatoriedade do contato interpessoal, pois sem ele desequilíbrios entre universalidades e individualidades comprometem a segurança biológica do paciente.

Cada encontro, quer uma primeira vez, quer repetitivo ou complementar,  precisa ser visto com um atendimento com mesmo potencial de apresentar algo, ou até então inédito ou que exija passar a merecer ajustes de alguma natureza. Por isso, qualquer decisão tomada é sempre original, configura desenho com uma intimidade peculiar, por mais que seja classificável em superposição a centenas de outros casos. As “originalidades” guardam as conotações da responsabilidade pela recomendação como assinatura profissional do médico e da legitimidade da aplicação pelo consentimento livre e esclarecido pelo paciente. Simples na teoria, complexo no mundo real.

Assim, o encontro médico-paciente liga-se à visão de criatividade, permitindo que objetividades e subjetividades deem justificados significados de aplicabilidade a métodos tecnocientíficos, porque exigem a harmonia individualizada para conhecimentos, habilidades e atitudes. Evidentemente, cada paciente projeta-se de modo próprio sobre o acervo da Medicina entendido como o conjunto de experiências  – do próprio médico, compartilhadas com colegas, via literatura- válidas, desta forma forjando a “originalidade” do caso em questão. Mesmo CID, vários desdobramentos.

A vitalidade das diretrizes clínicas está, justamente, na capacidade de poder contribuir para o encontro médico-paciente como bússola à mão e não como algemas nas mãos – e na mente. A virtude da prudência, este vigoroso pilar da ética médica, alerta que a integração paciente-diretrizes clínicas é demanda por orientação que admite flexibilizações, vale dizer, inadmite a concepção de cumprimento rígido.

A visão de encontro entre dois seres humanos em cada atendimento contribui para reforçar que o médico tem que estruturar um comportamento que será sempre ético na medida em que se devota a compreender as realidades básicas individualizadas, individualidades tanto do aglomerado biológico doença-saúde que habita cada paciente (um órgão doente com determinadas características, em meio a órgãos saudáveis e alguns diagnósticos como comorbidades) quanto dos aspectos psicológicos manifestos pelo paciente, incluindo desejos, preferências, objetivos e valores.

Portanto, o dia a dia do médico é a experiência sucessiva de encontros e reencontros. A Bioética da Beira do leito realça a unidade dos mesmos pela valiosa articulação com símbolos clássicos da relação médico-paciente, como a intensidade de atenção interpessoal, o comprometimento com as boas práticas das ciências da saúde e a busca contínua da eficiência por constantes reavaliações.

A Bioética da Beira do leito reforça que tomadas de decisão não têm bulas-oráculos, é a ansiedade ligada à criatividade em graus próprios da identidade de cada ser médico que energiza escolhas dos movimentos profissionais – forma, significado – para a condução ética perante as complexidades habituais da beira do leito, caso a caso.

COMPARTILHE JÁ

Compartilhar no Facebook
Compartilhar no Twitter
Compartilhar no LinkedIn
Compartilhar no Telegram
Compartilhar no WhatsApp
Compartilhar no E-mail

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POSTS SIMILARES