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442- Coragem rima com bagagem

O médico no exercício do profissionalismo pode privilegiar a razão, ele raciocina, ele pondera sobre fatos e dados captados desde o paciente, ele faz um cotejamento entre possibilidades diagnósticas, terapêuticas e preventivas benéficas e danosas que aprendeu, e em nome de um bom senso a seu próprio critério toma uma decisão que lhe soa manutenção do contato com uma realidade. Para isto, ele conta com a sua experiência e com a coragem de conseguir se posicionar mais isoladamente apesar das incertezas. Até porque, ele tem consciência que seria difícil obter um consenso numa eventual consulta de opinião a colegas que respeita pelo conhecimento.  Eles podem aliviar ansiedades, mas não costumam elevar o grau de convicção.

O médico pode privilegiar a evidência científica, fazer recomendações quase que somente quando elas estejam sustentadas num conhecimento coletivo validado, por exemplo, em diretrizes clínicas organizadas por sociedades de especialidade reconhecidas internacionalmente. Não deixa de ser uma forma de bom senso, mas, de alguma forma, deixa se levar mais por uma ideia de respeito à verdade como  o mundo da Medicina passou a convencionar do que de aplicação prioritária da razão.

O médico pela elevada capacidade que desenvolve de se concentrar na beira do leito em busca da eficiência valoriza a verdade que a ciência aponta e, ao mesmo tempo, aplica a razão como o instrumento para dar sentido a uma certa liberdade para ser médico numa conexão com o paciente acolhedora e necessitada de ajustes às individualidades. Um domínio de coragem para não hesitar quando entender que o fazer o bem melhor para o paciente requere ficar à margem de um efeito manada. A segurança da bagagem qualificada acumulada.

Assim, a razão persiste impregnando a responsabilidade de ser o médico assistente do paciente, evidentemente, numa dimensão contemporânea que associa pensamentos estabelecidos e armazenados pela vivência prontos a eclodir a qualquer motivação clínica e o reconhecimento do valor ético das evidências científicas produzidas à margem de sua participação direta.

A Bioética da Beira do leito estimula reflexões neste sentido, no encalço de uma sabedoria que procura incentivar, especialmente o jovem médico,a se conscientizar sobre o valor da abertura e da tolerância em meio ao rigor com a ciência. O paciente é parte integrante do conceito de transdisciplinaridade que funciona como um contrato moral que rejeita qualquer transgressão ao caráter essencialmente humano da beira do leito.

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