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1490- Voz ativa do paciente como propriedade (Parte 15)

A disposição recíproca ao diálogo com vozes ativas tem um caráter simbiótico que deságua numa manutenção da proposição  de conduta,  ou numa integração que comporta adaptabilidades admissíveis quanto à beneficência e à não maleficência ou numa rejeição, resultantes  que fazem com que um consentimento ou num não consentimento representem esforços mútuos para bem qualificar a conexão médico-paciente. . No caso de terminar num Não, doutor, será decorrente não de um pensamento rápido, automático do paciente, mas de um passo-a-passo do pensamento numa tentativa de se chegar a mais possível justaposição.

Pegando carona com Immanuel Kant (1724-1804), o médico tem a obrigação de se abster de violar a propriedade escolhida pelo paciente no caso um privado Não, doutor à recomendação médica, um uso individual que se estabelece como um direito que todo paciente tem por força do Código de Ética Médica vigente.

Exceções existem, mas o habitual é que o médico objetiva unilateralmente por meio da bagagem profissional e o paciente subjetiva unilateralmente e da justaposição resulta o consentimento ou não à recomendação médica. Uma justaposição de solilóquios que pelo diálogo devem se compor como um acesso autorizado pelo paciente a sua propriedade corporal.

O contexto de propriedade foi estabelecido no Relatório Belmont que afirmou que uma pessoa autônoma é um indivíduo capaz de deliberar sobre objetivos pessoais e atuar segundo o direcionamento de tal deliberação. Contudo, é fato que pessoas doentes são incapazes de exercer uma autonomia plena, o que coloca uma pitada de ambiguidade sobre rigidez e flexibilidade da autodeterminação, decidir por si mesmo.

A influência de bióticos do ecossistema é notória no processo de decisão, a chamada autonomia de relação insere no processo decisório influências de circunstantes como familiar, amigo, colega, conhecidos com mesmas morbidades. É verdade que na maioria dos casos, há um consenso de consentimento entre os intervenientes, mas um clima de indecisão sobre dar ou não consentimento reproduz uma parábola   de Franz Kafka (1883-1924), que podemos adaptar para a beira do leito como: O paciente fica entre dois estímulos, um a sua frente é o médico “empurrando-o” para o consentimento, outro na retaguarda são circunstantes “barrando-lhe” este movimento; o paciente ora aceita o “empurrão”, ora apega-se á resistência. O primeiro estímulo faz pressão contra o segundo e vice-versa. Mas isto só em teoria. Pois não há só os dois estímulos contrapostos, existe também o próprio paciente, quem conhece suas intenções. Voltando ao original, É o seu sonho que num momento inesperado – e deveria ser uma noite, tão escura como nunca houve igual – abandona o campo de batalha, elevado que foi, graças a sua experiência na luta, à condição de juiz dos dois adversários.

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