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1473- Non nocere imortal (Parte 24)

Entra em cena Ebulides de Mileto (século IV aC) com seu paradoxo de sorites: quantos grãos (de sais farmacêuticos) são precisos para formar um monte (maléfico)? Atrai a heteronomia  decisória.

Não há conclusões como evidências a serem fios condutores de diagnósticos etiopatogênicos ou de explicações fisiopatológicas associadas à contaminação da água por fármacos, mas a negação seria inconsequente e as incertezas não devem ser varridas para debaixo do tapete utilitarista, pois os calombos decorrentes podem causar grandes tropeços.  Incinerador,  coprocessador e aterro sanitário de classe I, destinado a produtos perigosos são instrumentos para redução dos calombos de ecotoxicidade, aspecto da engenharia que se insere no valor da transdisciplinaridade.

A Bioética da Beira do leito entende que o domínio da medicina deve conter o significado do Mito da Caverna de Platão (428 aC-348 aC) pela valorização do interesse sobre a realidade que não esmorece sob imposições de grupos dominantes. Vontades determinadas  motivam pensar a fim de obter lucidez para meios e caminhos sustentarem decisões e atos, para bem ajuizar saberes e opiniões de modo não submisso. Particularmente quando a submissão mora em nosso interior.

Até que ponto, devo deixar de tomar um medicamento em benefício do planeta? Não cabe uma tirania do verdadeiro, mas cabe François de La Rochefoucauld (1613-1680): Temos todos bastante força para suportar os males dos outros. Afinal, a verdade é do conhecimento e o valor é do desejo. Podemos fugir da verdade, mas escapar do desejo é mais complicado.

A primeira relação pode ter a mesma conscientização sobre as verdades, mas a segunda não costuma ser assim. A vontade (desejo + movimento) é determinação altamente plural e emocional, faz a diferença, é estruturante do que venhamos a valorizar. O provisório pela indecisão,  necessidade de momento ou para adaptabilidade tem força motora para sustentar esforços para durar. Não infrequente,  ele persiste como uma repetição que vai ficando “definitiva”. Fazer desta inércia uma moral com etiqueta justificadora de uma virtude é complexo, pois se por um lado cabem argumentos críticos ao rótulo de categórico na medicina, por outro, os diferentes motivos do provisório estão muito mais em nós.

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