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1465- Non nocere imortal (Parte 16)

A razão do Non nocere ligada à percepção humana que intenções pelo bem clínico podem resultar num mal biológico especialmente se baseadas em suposições nada fundamentadas ou em experiências isoladas enquadra-se no domínio da medicina baseada em evidências e a organização de suas recomendações em dimensão de efeito e grau de probabilidade.

Hipócrates foi realista em relação ao pessimismo que aconteceria com Molière (Jean-Baptiste Poquelin, 1622-1673) pelas palavras de Beralde em O Doente Imaginário: os homens morrem de seus remédios, não de suas doenças. É observação que traz desafios  a respeito tanto da hipocondria quanto da automedicação. Como se sabe, Molière sentiu-se mal e faleceu pouco depois encenando um falso médico.

A cautela de Hipócrates representa uma intuição que cada novo conhecimento reduz mas não elimina a ignorância e que é pensamento essencial para lidar com a arte de intervir na vida, assim exercer poder sobre a natureza das coisas, como doenças, atuar para desenvolver novas formas de viver, segundo a vontade, mas nunca esquecendo que muitas forças atuam em complexas interações provocando enormes diferenças. O efeito borboleta existe na beira do leito. As decorrências para o médico compõem a ansiedade profissional que podemos denominar de pigmaliônica, em analogia ao mito de Pigmalião, o rei de Chipre que esculpiu uma estátua feminina e convenceu Afrodite a dar vida à escultura, após o que com ela (Galateia) se casou.

O Non nocere tem um sentido de mandamento bíblico e, na prática, exerce limitação a  uma visão utópica pelo médico que possa ser produto da conjugação perigosa entre um dogmatismo/verdade e um profetismo/valor. O Non nocere adverte para a verificação sobre as possibilidades de objeções que perturbem a imediata condução de uma previsão conceitual de beneficência à condição de uma prática beneficente para o caso.

É essencial considerar que a caracterização de um Nocere a ser evitado pela óptica do médico pode sofrer diferenças de interpretação pelo paciente porque o conceito de dano admite que algo é danoso ao ser  sentido como ruim para quem sofre, significando, ou seja é concepção subjetiva. Tanto uma palavra mal recebida pelo paciente quanto um procedimento mutilante podem significar dano pelo paciente e benefício para o médico.

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