A Bioética da Beira do leito salienta que que Não doutor tem entre os fatores de disparo combinações entre racional e emocional como o despreparo para “más-notícias”, onde a qualificação da notícia é altamente plural. Evidencia que uma primeira reação negativa do paciente após ouvir as informações do médico envolve, entre outros desencadeantes, o medo, a inércia sobre a rotina e a memória de adversidades.
O paternalismo médico, o brando, tem o poder de acionar uma análoga Janela de Overton (Joseph Paul, 1960-2003) no ecossistema da beira do leito, o Não caminhando para Talvez e Sim, por efeitos de contrapor-se a vieses, o que favorece o exercício de uma autonomia baseada numa compreensão mais objetiva, assim, favorecendo a precisão do julgamento, por um lado, ajudando a controlar eventualidades emocionais e por outro lado, cuidando para a ausência de qualquer conotação de imposições coercitivas ou proibitivas.
O acolhimento pelo médico ao momento do Não doutor e interesse em compreender e aprimorar os subsídios para um consentimento conjuga-se com a necessidade de dar um tempo para o paciente repensar, ou seja, cobrar uma resposta imediata pode ser uma forma de coerção. Por isso, o valor de estímulos a uma segunda opinião médica, a integração de familiares (autonomia de relação) nos esclarecimentos, a posição otimista baseada na experiência- embora realista- do médico quanto aos efeitos da medicina, equipe e infraestrutura.
O paternalismo médico, o brando, impacta tanto sobre a intensidade da repercussão da “má notícia”, ou seja, dá tempo para absorção racional quanto sobre a previsão de final pela continuidade de informações. Não se trata de confrontar e pressionar o paciente, dar canseira até uma fadiga do Não doutor.
A Bioética da Beira do leito entende que o paternalismo médico quando provoca a autonomia de relação, por exemplo, por sugestão ao paciente de ouvir familiares, pode até vir a machucar o ego ou provocar lesões narcísicas, todavia a estratégia de ampliar o tempo para a decisão definitiva, manter o Não doutor como provisório representa o oferecimento de uma prótese cognitiva alinhada para o bem do paciente, a ser adotada ou rejeitada com liberdade pelo paciente. Isto porque não representa dizer para o paciente o que ele deveria desejar, mas dar oportunidade para maior acurácia sobre o que vier livremente a desejar.
Não há dúvida que maus julgamentos podem ter consequências terríveis, mas, pode ser um preço da liberdade. Médicos são livres para aceitar ou não com mais ou menos espírito paternalista, o brando, os juízos dos pacientes acerca de beneficências/não maleficências dos métodos diagnósticos, terapêuticos e preventivos. Controles de enviesamentos podem elevar a precisão decisória do paciente e assim não deixa de respeitar a autonomia sem impor uma concepção substancial do bem pela visão da medicina.