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1392- Afável paternalismo médico, rigorosa tolerância e sensível acolhimento ao paciente (Parte 3)

Um atalho substituto ganhou status de rotina, que podemos intitular como Assine Aqui. É alternativa burocrática – papel e caneta oferecidos ao paciente para devolução rápida – apresentada como um costume de consumo imediato que compele o paciente a desistir da oportunidade – portanto liberdade tolhida – de manifestar o (não) consentimento razoavelmente esclarecido sobre razões de aplicação e perspectivas evolutivas.

O fracasso da finalidade ética do documento que repousa no dito que a teoria na prática é outra e que enfatiza que Termo de Consentimento Livre e Esclarecido tem mais serventia para a medicina defensiva (“o paciente sabia dos riscos”), faz um contínuo renovar do valor do tradicional falar e ouvir entre médico e paciente em ambos sentidos de direção, do olho no olho que beneficia a confiança, do desenvolvimento das palavras motivado pela reciprocidade dialógica e, assim, muito além do que possa ser proporcionado por um texto padronizado por mais que seja cogitado como fonte esclarecedora por profissionais competentes em comunicação na saúde.

A bem da verdade, e como consolo ético, pode-se ponderar que a assinatura do paciente no documento sem sua leitura crítica representa muito mais efeito de tudo do que já foi conversado previamente entre médico e paciente no decorrer do processo de tomada de decisão/consentimento e no âmbito da conexão médico-paciente, o de maior valor moralmente. Por exemplo, o paciente comparece para ser internado porque previamente consentiu com o procedimento hospitalar após esclarecimentos ambulatoriais pelo médico e, à admissão, procede a um Assine Aqui sem se inteirar detalhadamente do conteúdo admitido como superposto.

Um documento como o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido talvez possa estar menos sujeito a manipulações constitutivas pelos filtros porque passa do que o diálogo, uma individualidade mais solta, onde cada médico pode selecionar as informações a seu modo de filtragem, até mesmo passível de influência por conflitos de interesse. Todavia, o mau emprego do escrito desrespeita o acolhimento ao paciente embutido no princípio da autonomia.

O uso burocrático é distorção ética por potencializar dissociações entre admissíveis informações impressas padronizadas eficientes para a maioria e imprevisíveis individualidades no contexto da relação doença/medicina-doente/médico que prejudicam justificativas de intenções de interferência/alguns ajustes no processo do consentimento pelo paciente, porventura não reconhecidas no diálogo ambulatorial.

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