Uma utilização pedagógica na beira do leito é a metáfora do sal como apoio para o treinamento de atitudes/comportamentos do jovem médico e que cai muito bem no contexto do não consentimento pelo paciente capaz às recomendações médicas, fato sempre relevante embora não frequente.
O sal (cloreto de sódio) figura no papel de representante dos métodos em medicina e a água como o paciente, corpo e mente. É expediente válido para dar alcance à infinitude de reações a reboque da diversidade da condição humana frente ao alto potencial de adversidades biológicas e de cunho mental, e que tem o efeito bula como expressão clássica.
Bioamigo, é notório que o sal de cozinha dissolve-se na água, fenômeno que dá-se por uma disposição recíproca que se materializa naturalmente com a justaposição de ambos. O sal dispõe-se a se dissolver e a água dispõe-se a realizar a dissolução. Parece simples, mas… Temos o hábito de pensar em água no estado líquido, fica, habitualmente, em segundo plano na mente que gelo e vapor d´água também são água.
Surge a questão do estado físico, o que direciona para uma analogia com o “estado do paciente”. Na recomendação teórica do método, metaforicamente quanto à reciprocidade, o sal não precisa ser explicitado como granuloso, mas o paciente necessita da correspondência ao líquido da água como alguém afirmando consentimento.
Em função de circunstâncias, num determinado momento e condição, um paciente pode sentir-se gelo ou vapor à recomendação, não se dispor à reciprocidade que subentende o estado “líquido” nas diretrizes clínicas. Ademais, uma saturação – também plena de analogias com o paciente – pode impactar sobre a disposição recíproca da água mesmo líquida. Recorde-se, ainda, que o coeficiente de solubilidade – a quantidade máxima de soluto que pode ser dissolvida em determinada quantidade de solvente- é sensível à temperatura, outra fonte de analogia.
Como dito por Bertrand Arthur William Russell (1872-1970): Quando não há uma certeza, deve-se admitir que algumas coisas são mais certas do que outras. A Bioética da Beira do leito ajusta para a beira do leito como: Quando não há a certeza sobre a realização no paciente da utilidade do método como útil (biológico ou mental), o médico deve admitir que outras coisas além do científico podem ser cogitadas como passíveis de admissibilidade como certas.