PUBLICAÇÕES DESDE 2014

1337- Medico sapiens e Medico ciborgue (Parte 10)

Na infância/juventude, fui leitor assíduo de José Bento Renato Monteiro Lobato (1882-1948), razão porque sempre que me deparo com temas relativos à integração entre natureza e tecnologia, especialmente à ligada a imagens, faço analogias com ideias da Emília em A Reforma da Natureza: Pois eu aumentava o número de olhos – disse Emília- Porque só dois? Assim como temos dez dedos, podíamos ter dez olhos. Eu punha quatro na cabeça, a norte, sul, leste, oeste. E punha dois nos dedões do pé, para evitar as topadas. Outro dia Pedrinho deu uma topada num tijolo que quase arrancou a unha. Com um olho em cada dedão não há perigo de topadas – nem de espinhos e de estrepes. E eu também dava olhos para cada dedo minguinho. O minguinho é um verdadeiro vagabundo nas mãos. Não faz nada. Fica o tempo todo assistindo ao trabalho dos outros. Ora, se o “mingo” tivesse um olhinho na ponta, podia prestar bons serviços. Às vezes a gente quer enxergar numa cova de dente ou ver se há cera no ouvido, e não pode. Com o olho do “mingo” nada mais fácil.

Pois é Emília, esta substituição “vantajosa” do sentido do tato pelo da visão tem analogia com o que acontece entre a “visão” de beneficência pela tecnociência e o “tato” com as individualidades do ser humano e seu direito a livre-arbítrio. Não é fácil ajustar nervos ópticos suplementares na estrutura mental clássica.

No ecossistema da beira do leito contemporânea, como será a conexão transumana entre Medico ciborgue, que, por exemplo, enxerga o paciente através de imagens processadas por máquinas, e paciente parte humano e parte artificial por implantes- quer uma simples dentadura, um marca-passo cardíaco, uma lente fazendo o papel do cristalino ou um hormônio substituto? Qual será a chance de a aplicação de tecnologia altamente transformadora, incluindo polêmicas intenções de “aperfeiçoamentos morais” por freios tecnológicos sobre considerados inapropriados, derivar a ética ontológica para uma ética utilitarista?  

No contexto de humanismo, transumanismo e pós-humano e preocupação com o desumano, em que o transumanismo é um passo-a-passo de transformação do Homo sapiens pela tecnologia, a preocupação da Bioética da Beira do leito com o impacto no Medico sapiens motiva a um olhar crítico principialista sobre a constituição do transumano Medico ciborgue.

COMPARTILHE JÁ

Compartilhar no Facebook
Compartilhar no Twitter
Compartilhar no LinkedIn
Compartilhar no Telegram
Compartilhar no WhatsApp
Compartilhar no E-mail

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POSTS SIMILARES