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1317- Ética não se define, pratica-se ( Parte 5)

O médico tem sua fala esquematizada, trabalhou nela com ferramentas do condicionamento em carrossel, organizou mentalmente, fez algumas seleções sobre o a ser dito e, agora sentindo-se pronto dispõe-se a transmitir do modo mais esclarecedor. Dialetos irão se cruzar e exigir esforço de linguagem para não transformar a beira do leito numa Torre de Babel.

O médico que conhece bem o paciente ajusta o vocal para tensões e pausas e para animar subtextos, bem como deixa espontânea a linguagem corporal, sabendo que ajuda a comunicação translacional na medida em que impacta forte na visão do paciente, habitualmente um leigo, atualmente mais informado (bem ou mal) pela internet. O médico sabe o que emitirá, mas não sabe como será captado. Ele vai começar…

Paciente e familiar aguardam com ansiedade, tudo travado pelas expectativas ambíguas de ouvirem palavras mais aliviantes ou mais afligentes, mais próximas ou mais longe de seus desejos, preferências e objetivos, mais ou menos enquadráveis em seus valores.

O sentido da audição em sua máxima função, a mente no modo de processamento da informação mais elevado. O que será que ele dirá? Muitos sentimentos e a pretensão do racional de não se deixar ofuscar.

Alegria e tristeza aguardam qual delas resultará mais ativada dali a instantes no desfecho da comunicação “ligante”, o que a Bioética da Beira do leito chama de o áudio da ciência aplicado na beira do leito. O diagnóstico/prognóstico sempre presente ao fundo sustenta justificações para explícitos desdobramentos terapêutico-preventivos.

Paira no ar um espírito hitchcockiano (Alfred Joseph Hitchcock, 1899-1980), médico e medicina sabem mais que o paciente, assim como no cinema deste diretor o espectador sabe mais que os personagens. Assim, numa espécie de manipulação validada, o suspense progride plano a plano por um desenvolvimento do propósito informativo/esclarecedor, os pormenores bem alinhavados ao todo, o prestes a ser revelado se materializando concatenadamente. Um médico imparcial pelo respeito à ética e um paciente nada neutro acompanhando um fio condutor.

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