Na formação do médico, primeiro vem a teoria, é o sono que sonha, mais restrito, depois vem a prática, o tempo desperto e que se faz mais dependente do ecossistema da beira do leito e da vontade de realização. A realidade profissional é, todavia, muito mais complexa que um maniqueismo entre teoria modorrenta e prática dinâmica, até porque os espaços da ética precisam ser preenchidos com fidelidade a princípios e a regras. A prática pode até desconstruir a teoria, mas, habitualmente, estimula ajustes, feedbacks entre o intelecto da ciência e a arte da prestação do serviço.
Forma-se um cenário que associa verdades que acompanham conhecimentos e valores que se alinham com desejos, num potencial de disjunção que clama pelo exercício tanto da tolerância, virtude que exige a consciência da responsabilidade pelo que se assume na aceitação de mudanças, quanto da prudência, virtude da preocupação com movimentos orientados para o futuro. Há o ser alcançado e há o não ser perdido. Podem chamá-los de terapêutica e de prevenção.
Quais arquétipos, a frieza profissional embora calorosa numa humana representação de oxímoro, em convivência com um ardor proveniente da angústia do paciente, encontro em que as partes, idealmente, tendem a sofrer efeitos de identificações e, assim, recebem influências da temperatura do outro… ou não…, pois, a formação de laços é praticamente inevitável ocorrendo contexto de mútua visibilidade.
É a enésima vez que o médico assim procede. É momento especial da conexão médico-paciente, embora para ele rotineiro, um calejado na comunicação de boas e más notícias.