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1303- Bioética e simbolismo de Quem tem medo do lobo mau?

A Bioética admite a propensão para a análise fina da condição humana, especialmente na cooperação no ecossistema da beira do leito quando valoriza a potência das evidências sustentadas pela tecnociência de modo integrado à prudência e ao zelo na aplicação do estado da arte por um ser humano a outro ser humano considerando diferenças com o outro.

Frequentemente, observam-se divergências/incompreensões entre o que o médico se propõe a praticar e o que o paciente acha adequado/consente. Os princípios da Beneficência e da Autonomia  são congenitamente fontes de antagonismos.

O que promove a aplicação ética de Beneficência não necessariamente espelha-se em recepção com sensação de benefício. O direito à voz ativa em contraponto à tecnociência validada alinhada ao princípio da Autonomia requer o compromisso profissional com análises finas da condição humana na prática da Bioética da Beira do leito.

A Bioética habita, invariavelmente, a conexão médico-paciente apesar de não se perceber no cotidiano dos atendimentos às necessidades de saúde. Relacionamentos, condutas, cuidados com a integração entre clássico e inovação estão, habitualmente, temperados pela Bioética introjetada na formação profissional, tornando-os mais palatáveis, admissíveis e aceitáveis de modo geral.

Este oculto da Bioética é sorrateiro quando os fluxos de tomadas de decisão fazem-se sem maiores oposições humanas, aliás, contribuem para as superposições. Assim, dá-se  a conduta Recomendável sustentada pela Beneficência, a seguir passa-se pelo filtro da Não maleficência perfazendo, então, a conduta Aplicável e por fim atinge-se a conduta Consentida numa situação de plena harmonia entre médico, medicina e paciente. Aceita-se o que se acredita, trabalha-se sob o efeito do viés de confirmação, o mecanismo que faz reforçar e aceitar as informações amigáveis com as crenças e os desejos e que, no ecossistema da beira do leito articula-se com a confiança como uma transferência de confirmação.

Em suma, a Bioética embutida é a Bioética de Todos Nós que enfeixa um capital moral alinhado à condição humana para ecoar as realidades e as complexidades da saúde/doença e que permite certas simplificações/reducionismos/niilismos.

Mas, assim como há Numa Boa, há o Deu ruim.

Quando acontecem travamentos humanos, o espírito da Bioética fica consciente, sua representatividade é chamada a uma presença, em termos práticos, valoriza-se uma contribuição “externa” da Bioética como a proporcionada pelos Comitês de Bioética.

O Recomendável, o Aplicável e o Consentido empilham-se e parodiando Leon Tolstoi em Anna Karenina: Todos os atendimentos harmônicos se parecem, os desalinhados desarmonizam-se cada um a sua maneira. A Bioética auxilia no trato coma a maneira.

Aí está um nó górdio da capilarização da Bioética no ecossistema da Beira do leito. Numa condição inversa a da lenda. A Bioética não pretende simplesmente cortar a corda, ela intende desfazer o nó, o que traz exigências nem sempre desejadas para cumprimento.

É habitualmente difícil aceitar o que conflita consigo e já imaginando a possibilidade de uma orientação de contraposição pelo Comitê de Bioética, o viés de confirmação faz esquivar-se da consultoria enquanto pode, até porque mudar certas “certeza” é complexo

Quando enfim ultrapassa o umbral do temor de reprovação por atingir um limite onde sente que não pode prescindir de um respaldo, é que, comumente, se dá o movimento para se arriscar a um contraponto explícito, mas sempre com a expectativa de uma confirmação da maior validade de sua posição.

A Bioética da Beira do leito articulando-se com o simbolismo do Quem tem medo lobo mau?

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