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1286- Em detrimento de. Privilégio e Bioética (Parte 10)

A Bioética sabe bem o quanto a comunicação calorosa é essencial para a convivência harmônica na beira do leito, o quanto é desatencioso quando ela se torna  tão somente um frio comunicado ao paciente, meras palavras nem sempre “comunicativas” e o quanto custa a perda do crédito na palavra, quer de uma pessoa, quer de uma norma e que compromete o conjunto de valores, costumes, regras e leis que dá conteúdo e vitalidade ao patrimônio cultural construído no entorno da medicina. Justificativas  de normas que levam em consideração a pluralidade de interesse permitem a necessária autoridade moral.

Polissemia é indispensável na fala habitual, expressão de flexibilidade cognitiva, provoca bem e mal entendidos, ambiguidades, metáforas. Quantas vezes falamos no automático sem nos apercebemos da incoerência, como o cão é o melhor amigo do homem, ele é um cão de perverso, sofri uma cachorrice, leva uma vida de cão.

Privilégio é termo que enseja sentidos mais positivos ou mais negativos em função de circunstâncias, inclusive, com distinções entre quem emite e quem capta suas quatro sílabas que demandam distintas mexidas de boca. Privilégio é daquelas palavras-etiquetas que grudam com potencial de gerar tensões e fortes reações imediatas. Por exemplo, tensões circunstanciais pelo desejo de uma reviravolta decisória. Ademais, privilégio admite um imaginário protagonista tanto de preocupação excessiva com segundas intenções quanto de nenhuma preocupação com convenções.

É diferente quando um palestrante inicia com É um privilégio estar aqui com vocês  – reação de empatia – e quando, em outro contexto. o mesmo entende que foi preterido por um privilégio numa participação de maior projeção dada a outrem – reação de antipatia. Na primeira situação, houve um convite, até prova em contrário, por mérito avaliado por outros, na segunda situação, houve uma apreciação egocêntrica, ambas, contudo, passíveis de representar justiça ou injustiça. Um jogo do ideal no entorno da razão e do sentimento que no ecossistema da beira do leito fundamenta uma ruidosa questão: Se a hospitalidade fosse a modelar porque, então, a imprescindibilidade de atividade organizada de humanização? A Bioética da Beira do leito entende que um dos componentes da resposta é que a representação da humanização exerce o poder de porta-voz da equidade.

Sendo privilégio um termo que comumente requer uma análise crítica, mesmo sem a interrogação soa como uma pergunta exigente de uma resposta afirmativa ou negativa. Em seu lado positivo, pode soar ou como um direito socialmente incontestável – o direito adquirido de ser/estar/ficar médico(a) no ecossistema da beira do leito por cumprir pré-requisitos legais- ou como uma prerrogativa para a precessão de escolhas- o médico(a) como agente capacitado selecionador de métodos tecnocientíficos cabíveis para o caso a serem apresentados ao paciente para consentimento e subsequente aplicação. Em seu lado negativo, privilégio pode ser entendido como expressão de tratamento indevidamente diferenciado/preconceituoso ou de exorbitâncias de conduta em relação à comunidade médica/sociedade em geral pelo fato de ser/estar/ficar médico(a).

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