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1285- Em detrimento de. Privilégio e Bioética (Parte 9)

Pegando carona com Rollo Reece May (1909-1994), perceber-se diminuído por um privilégio dado a outrem compromete o poder de ser com que todos nós nascemos, colide com a autoafirmação, a consciência de ser, incomoda o auto reconhecimento que sustenta o “aqui estou eu, saibam todos”, induz à agressividade em direção à recuperação do prestígio – esta formidável mola propulsora do comportamento humano – e pode desembocar em algum tipo de violência, mais ou menos espontânea ou calculada, mais ou menos construtiva ou destrutiva.            

Tendo como pano de fundo ⁠Quanto mais privilégio você tiver, mais oportunidades terá e quanto mais oportunidades você tiver, mais responsabilidade terá dito por Avram Noam Chomsky (nascido em 1928), o ato recorrente do médico(a) de carimbar o número de CRM representa compromisso de responsabilidade com embasamentos éticos, morais e legais do exercício profissional que vem junto e misturado com oportunidades privilegiadas. Separar o joio do trigo, reconhecer infiltrações na equivalência, analisar assimetrias, ter a conversa certa é preciso, por isso a validade de um Alô Bioética!

A Bioética da Beira do leito interessa-se pelo desenvolvimento de reflexões sobre a associação da responsabilidade do médico(a) com significados de oportunidades e privilégios profissionais no ecossistema da beira do leito. Especialmente, na separação do que possa vir a representar sensatez de uma conquista profissional ou, tão somente, um mero efeito da “lei de Gerson” (Gosto de levar vantagem em tudo, certo?), desvinculado de razoabilidades.

A Bioética funciona como fórum eclético para desafios, dilemas e conflitos que contribui para orientar acerca de prós e contras de opções, ela não exatamente dispõe-se a aprovar ou a desaprovar e, por isso, ela não determina uma conclusão resolutiva, tão somente eleva a segurança ética, moral e legal para a deliberação pelo requerente.

A intervenção aconselhadora da Bioética sobre desafios, dilemas e conflitos desencadeados por possibilidades/realidades de privilégios, tem o potencial de acrescer matéria-prima para reforço ou desistência da tese de ocorrência de um privilégio numa determinada circunstância. O estímulo ao solilóquio ilimitado e sem fronteiras por quem enfrenta um conflito, dilema ou desafio articula-se ao compromisso da Bioética de modelar o mais amplo cenário das conexões envolvidas, facilitar percepções fora do costume, ajudar a entender o gradativo (cabe o advérbio mais para alto – sem limites- mas não para dia- convencionado a 24 h), entrever peculiaridades do uso das palavras (o teatro estava vazio – quer sem espetáculo, quer como uma avaliação porque havia apenas meia dúzia de espectadores), pode preencher lacunas de conhecimento, estabilizar pensamentos oscilantes, reconstruir pontos de vista até então firmemente aderidos como tinta na parede e transformar muros em pontes. Uma visão pretensiosa de Bioética como autoridade? Talvez… Mas faz acontecer! Enfatiza e eleva a segurança ética, moral e legal de deliberações. Ademais, contribui para conscientizar a respeito da convivência do médico(a) com liberdade teórica e não liberdade prática no ecossistema da beira do leito. Cotidianamente, médicos(as) duelam com Posso? Devo? Quero?

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