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1282- Em detrimento de. Privilégio e Bioética (Parte 6)

Privilégio é daquelas concepções que aparenta obviedade e reforça o dito por Clarice Lispector (1920-1977): O óbvio é a verdade mais difícil de se enxergar. De fato, quando nos interessamos e debruçamos, examinamos mais a fundo, somos surpreendidos por reconhecer que na verdade o que sabíamos é um verniz. Ademais, a soma de interrogações sobre situações de privilégio que recolhemos nos provoca sentir plateia de uma partida de tênis, alternamos frequentemente a direção da visão ao sabor de “raquetadas” de raciocínio. Quem aceita tranquilamente a fila de prioridade para idosos, gestantes e portadores de necessidades especiais pode discordar veemente das cotas raciais para ingresso no ensino superior. Redes sociais acendem frequentemente pavios de conjecturas de privilégio, muitas vezes num arranjo incisivo sem pavio mesmo que adere sem chance de efeito teflon.

Privilégio deriva do latim privilegium (lei privada) e admite definição como vantagem especial concedida, articulada a um status preferencial, motivadora de benefício ao destinatário e exclusão e prejuízo de outro e nem sempre a condição dominante está bem conscientizada pelo beneficiário que se comporta à margem de envolvimento. Quer ele queira ou não, a situação cria um tipo de vínculo, diríamos ligado à (sobre)vivência profissional, com o pretenso injustiçado convicto de oprimido pelo sistema.

Privilégios costumam, não somente, ocorrer no âmbito de grupos específicos sinalizando concorrência mais ou menos explícita, como também, causar tanto opressão como ficar amenizado como atitude tão somente de predileção de quem detém um determinado poder – capacidade de causar ou impedir mudanças. Alinham-se a aspectos de idade, religião, sexo, gênero, orientação sexual, capacitações e comunidades profissionais, conflitos de interesse e pertencimento a identidades. Fazem parte da curiosa necessidade de promover humanização do ser humano, um trabalho de Sísifo porque o ego tende a perder a solidariedade/sociabilidade, provoca pseudointeresses e motiva a piada sobre prestar pouca atenção aos outros, apenas o que convém e faz admirar-se a si mesmo: Bem já falei muito de mim, agora você… o que acha de mim? 

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