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1246- Valências no ecossistema da beira do leito (Parte 8)

Saímos da caverna (conforme a parábola de Platão (428 aC- 348 aC) quando passamos de leigos a profissionais, transição com ajustes a especificidades da profissão da bagagem pré-profissional (com a qual entramos na faculdade e que contém as influências formadoras da família, do colégio, dos amigos, das leituras, das artes em geral) e, constantemente, nos atualizamos para a ela não retornar.

Significa que o profissional da saúde para se ver livre de censuráveis ignorâncias carece da continuidade do envolvimento motivador com uma série de apreciações diagnósticas, terapêuticas e preventivas no decorrer da atenção ao (a)caso clínico do paciente, com a construção de hipóteses, com a percepção dos meandros, com enxergar contrapontos, enfim, com tudo que possa sustentar – e animar – uma calibragem de valências no abre e fecha do leque de opções de conduta. No dizer de William Bart Osler (1849-1919), o aprendizado do médico exige o paciente como texto.

Bioamigo como anda o seu liquidificador mental? Este instrumento do trabalho intelectual que, à medida em que os pedaços de dados e fatos referentes ao paciente são homogeneizados, microvalências se concentram em macrovalências e o leque de opções vai se fechando. Vale dizer, as anteposições recomendáveis tornam-se posições aplicáveis ou não com mesma valência (favorável ou desfavorável), ou numa linguagem clínica, materializam-se em indicações, não indicações ou contraindicações. Em outras palavras, o manejo da ambivalência (formação – visão de beneficência e de risco de adversidade- e dissolução- após avaliação da relação risco-benefício) é método da inteligência natural humana que se revelou de alto sentido no desenvolvimento de condutas pelos labirintos do ecossistema da beira do leito. O desenvolvimento da inteligência artificial e o aprendizado de máquina incluem seleção eletrônica de valências numa disposição algorítmica.

O manejo da ambivalência admite considerá-la um fio de Ariadne, uma forma de guiar as ultrapassagens dentro de limites com validade científica em situações com sensação de aprisionamento de pensamentos – o profissional da saúde pretendendo a beneficência não pode deixar de pensar na não maleficência, por exemplo, que se no primum non nocere de Hipócrates (460 aC – 370 aC) era para evitar males num não benefício, atualmente, prezar a não maleficência é evitar males do benefício.

Estruturar a condução das decisões de conduta “valendo-se de valências” requer do profissional da saúde não somente se sentir competente, mas, também, ser/estar justificadamente competente para se direcionar pelo estado da arte. Enfatiza-se, especialmente, perante situações fronteiriças e quando expectativas do paciente calcadas numa admissão de bom senso não encontram respaldo na ciência – produtos naturais são eficientes

Momentos de ambivalência pelo paciente incluem os assemelhados ao que ocorre quando aprendemos que a “movimentação” do Sol de leste a oeste na Terra é uma ilusão, dita verdadeira. Não faltam motivos de ambivalência sustentados pelo “como eu vejo” pela ciência que se vale do olhar de evidências em confronto com o ” como eu vejo” pela ética que se vale do olhar de justificativas. O “como eu vejo” com valência integrada tem o conhecimento científico como base e a ética como essência.

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