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1231- Trans e pós-humanismo na beira do leito. Uma leitura com o apoio da Bioética (Parte 32)

A chamada afinidade de sangue para a socialização daria lugar a uma afinidade de técnica? Seria melhor não se arriscar a fazer transformações, portar-se bioconservador obedecendo à orientação de William Shakespeare (1564-1616) em Hamlet: Faz com que suportemos os males que temos, em vez de voarmos para outros que não conhecemos?

Teríamos comportamentos orientados por distintas motivações intrínsecas e visões do mundo exterior? Considerando que o narcisismo assumiu uma função necessária pela perda da eficácia do instinto em relação aos animais para lutar pela subsistência e sobrevivência, a imagem de si mesmo pós-humana proporcionará reações narcisistas benignas  – um equilíbrio entre interesses e limitações – ou malignas – o objetivo não é o que faz ou produz, mas o que possui, ou seja, carência do elemento corretivo? Um narcisismo coletivo a apegos de posse tecnológica com superioridade associado a novas condições sociais, econômicas e políticas prevalecerá e modificará valores?

O alerta de autodestruição individual está na história do Narciso: ele repeliu o amor da ninfa Eco e assim a matou de desgosto; por isso Nemesis puniu o seu orgulho com a adoração da própria imagem e o desinteresse pelo mundo exterior, cuidou para que ele se debruçasse e caísse  para a morte no lago-espelho.

Bioamigo, para se ter uma ideia, basta perceber como você não mais sobrevive a suas necessidades, interesses e desejos sem a íntima colaboração proporcionada pelo seu smartphone, vale dizer, você refém de uma transferência narcísica. Para efeitos do Pix, por exemplo, de que vale o seu nome? O número da linha telefônica/número do CPF/e-mail tornou-se a identidade técnica.

A lógica do ciborguismo inserida nos contextos culturais, cívicos e educacionais parece profundamente enredada com princípios, objetivos e prioridades comerciais, assim resultando a noção que interfaces homem-máquina acontecem de modo unidirecional. Por isso, as necessidades dos juízos críticos de contraposição equilibradora das tensões provocadas pela (r)evolucionária biotecnificação da vida contemporânea, suas expectativas sobre a distribuição do tempo, do poder, da energia deveriam contar com a relevante participação da Bioética.

Ao final, reforço o valor da Bioética para o juízo crítico sobre transformações no ecossistema da beira do leito, até porque os desenvolvimentos tecnológicos mais disruptivos são normalmente antecipados com décadas de antecedência. É período para reflexões, por isso, a necessidade do fortalecimento da credibilidade da Bioética para prover algum equilíbrio entre o ousar pensar, o ousar criar, o ousar mover-se de poucos detentores do ruidoso poder da tecnociência, eminentes workaholics num mundo à parte, pesquisando muitas respostas para o que nem lhes perguntamos, e a liberdade para escolher os próprios caminhos futuros da maioria silenciosa.

A dimensão atual do progresso tecnocientífico abalou a concepção de distúrbio de comportamento individual para vício, haja vista a dificuldade coletiva de se abster da dependência criada. Vício e virtude se emaranharam, aquele não necessariamente é o avesso desta, pois a tecnociência reforça Aristóteles (384 aC-322 aC) que inexistem virtudes inatas, elas se desenvolvem nos atos repetitivos.

Bioamigo, consciente de que as coisas mudarão, embora o alcance sobre o que virá a ser esteja bem nebuloso por mais extrapolações mentais que possamos efetivar. Não pude terminar estas considerações sobre transformação humana, sobre como o ser humano que conhecemos hoje se tornará exatamente, e que em que mundo viverá, sem pensar na aparência, nos hábitos, no becape de consciência em chips, em existência em avatares, em idade de Matusalém e … na imunidade para pandemias viróticas de nossos tataranetos! E você o que pensa?

Crédito: https://youthinpolitics.net/a-future-of-cyborg-babies/

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