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1207- Trans e pós-humanismo na beira do leito. Uma leitura com o apoio da Bioética (Parte 8)

 

IV

Bioética da militância entusiasta

Segundo os gregos antigos o entusiasmo (ter um deus dentro de si) é imprescindível para vencer desafios e fazer acontecer, Rollo May (1909-1994)

Bioamigo, o ambiente hospitalar é sui generis. Ele revela várias formas de relacionamento dos profissionais da saúde com a Bioética no ecossistema da beira do leito. Representa a variabilidade da motivação humana para dispor-se a buscar fontes externas de coerência e justificativas. Tem tudo a ver com consciência, empatia, solidariedade.

Bioética, entretanto, não é uma unanimidade de atribuição de importância. Num extremo da abertura do leque de valorização da Bioética posiciona-se a militância entusiasta e no outro a oposição radical (ela admite, inclusive, cenários de postura preconceituosa). Entre os extremos ocorrem comportamentos de aproximação e de distanciamento, muitas vezes movimentados pelos interesses de momento – inclui conflitos de interesse -, que no sistema de saúde mostram-se em constante renovação.

A militância em Bioética reúne-se, essencialmente, em Comitês hospitalares. Os membros engajam-se com suas intenções, caráter e iniciativas na cultura institucional e exercem variadas “contribuições de ponte” de natureza estratégica (objetivos), tática (processos) e holística. Estabelece-se uma peculiar comunidade de interpretação (pensamento individual, atos interpretativos coletivos) por aposição de representações de várias comunidades de interpretação (medicina, direito, enfermagem, serviço social, etc…). O exercício de uma atividade multiprofissional focada em convergências e intercâmbios exigente de transdisciplinar diversidade de saberes e de sabedorias. Linguagem, comunicação, espírito de equipe e determinação compostas de forma para que cada militante seja ao mesmo tempo mestre e aluno numa  disposição para um clima de cordialidade favorecedor da produtividade, credibilidade e legitimidade. O Comitê de Bioética ganha fluidez cognitiva para, por exemplo, apreciar conflitos utilizando uma sortida “caixa de ferramentas do pensamento”.

Os membros dos Comitês hospitalares de Bioética esforçam-se para incutir a atração que sentem no catálogo de motivações pedagógicas, por exemplo, do Residente de Ciências da Saúde- e demais profissionais da saúde.  A militância entende a Bioética como parte integrante da graduação e da pós-graduação (especialmente esta pela melhor percepção das realidades), adjuvante para descobertas, aperfeiçoamentos e debates. Ponto lato é a cooperação da Bioética para o desenvolvimento do pensamento crítico, vital no apoio a ajustes de comportamentos profissionais perante as sequentes transformações do – e pelo – ser humano como efeitos da tecnologia em saúde – reforço à designação de Antropoceno à época geológica (da era Cenozoica) em que vivemos.

A Bioética absorveu o compromisso com uma vigilância antropocêntrica crítica a ambições expansoras que marcam a humanidade “desde Adão e Eva” (cujo mito marca o nascimento da consciência moral) e com realismo a limitações. A Bioética propõe-se a praticar um olhar integrativo entre atualidade e posteridade biótica e abiótica da atenção à saúde. Inclui perspectivas a respeito da qualidade de sucessivas e heterogêneas influências sobre a preservação (medicina preventiva) e a restauração  (medicina terapêutica) da saúde humana.

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