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1199- Consulta e Bioética (Parte 2)

A linha demarcatória de dada fronteira em dado (a)caso no âmbito do comportamento ético embora deva ser idealmente traçada com as tintas fortes da rigidez com valores não é isenta de retoques consequencialistas. No contexto da conexão profissional da saúde-paciente, é admissível conjecturar sobre enquadramentos da atitude em organizações mentais com graus de flexibilidade de pressupostas coerências, haja vista a infinitude de polarizações humanas positivas ou negativas entre aspectos cognitivos, afetivos e comportamentais que se mostram determinantes de manutenções ou reordenações de tomadas de decisão.

Vida, saúde e bem-estar formam uma tríade da essência do ser humano que motiva sequentes exigências de sensibilidade profissional a respeito da cautela sobre reagir desproporcionalmente mais à doença do que à pessoa do doente. Sob o pano de fundo das perspectivas de resultados do uso correto da tecnociência, aspecto delicado na formação do profissional da saúde envolve distinções sutis entre dois entendimentos, ou que o acionamento do profissional da saúde foi para efetuar uma resolução na situação clínica ou que foi instado a orientar sobre opções resolutivas aplicáveis.

Na verdade, os dois entendimentos se completam, mas precisam cumprir etapas distintas. Hábitos do pensamento profissional constituídos durante a formação costumam dar o foco predominante, razão para que o treinamento em serviço, como na pedagógica Residência profissional, tenha, obrigatoriamente a cooperação da Bioética.

O diálogo profissional da saúde-paciente no encontro da consulta possibilita traçar as adaptações sobre finalidades, o que traz para o ecossistema da beira do leito o legado por Jean-Baptiste Poquelin, o Molière (1622 -1673): A palavra foi dada ao homem para explicar os seus pensamentos, e assim como os pensamentos são os retratos das coisas, da mesma forma as nossas palavras são retratos dos nossos pensamentos. Diálogo significa dispêndio de um tempo que, idealmente, deve ter um equilíbrio quantitativo (tempo do relógio) e qualitativo (tempo para o efeito) em que o apuro (passível de treinamento) na eficiência comunicativa pode ser intuído nas entrelinhas do perspicaz dito de Blaise Pascal (1623-1662): Escrevi esta carta mais longa porque não tive tempo de fazê-la mais curta. 

A Bioética da Beira do leito enfatiza a utilidade da atenção profissional a significados do uso corriqueiro da linguagem na conexão profissional da saúde-paciente. Um exemplo é o hábito de o paciente se identificar como se fosse a sua doença – Eu sou enfisematoso-, pois a superposição prejudica não somente a visão de doença como um processo, como também concentrar o foco nas individualidades de repercussão naquele paciente. Obviamente, a consulta refere-se a um portador de enfisema pulmonar e seus (a)casos.

A palavra consulta, o encontro profissional-leigo que provoca um processo dinâmico é um fenômeno linguístico no ecossistema da beira do leito pois, justamente, acontece com a acima referida dualidade de uma conotação mais semântica de apenas opinião e de uma conotação mais popular de atendimento completo, prescritivo. Assim, como é necessário que o profissional da saúde considere, em princípio, a pessoa do paciente como um desejoso de beneficência (potencial), mas, ao mesmo tempo, precisa saber se ele deseja o benefício (realização), impõe-se a percepção judiciosa dos limites da consulta em função do princípio da autonomia. Não apenas limites/limitações determinados pelas circunstâncias clínicas, mas também os correspondentes ao exercício da tolerância – virtude válida para questões de contraposição de opinião, especialmente quando se tem a sensação profissional que seria mais proveitoso para o paciente que não a respeitássemos.

Sabemos como uma consulta digna de ser chamada de ética começa – classicamente pela queixa e anamnese- mas nunca sabemos como de fato se desenrolará e terminará. As incertezas incluem as decorrentes do direito à voz ativa do paciente para expressar suas receptividades e reatividades ao desenvolvimento da consulta. Porque o paciente não é um boneco de um ventríloquo profissional da saúde, cabe adaptar ” … Uma pessoa é uma assembleia onde diversos membros se manifestam ao mesmo tempo propondo coisas diferentes…” dito por Alexandra David-Néel (1868-1969), para Uma consulta médica é uma assembleia onde participam várias opiniões “não presenciais” retransmitidas pelas vozes locais do profissional da saúde e do paciente, não necessariamente resultantes em conciliações.  

A Bioética da Beira do leito reconhece o valor da conscientização de uma consulta na área da saúde como uma soma cujo total pode ser qualitativamente distinto das características de cada parcela em função de cotejamentos entre liberdades teóricas e não-liberdades práticas em planejamentos e aplicações. Significa que ambos, profissional da saúde e paciente, estão de fato “presentes”, interatuando, porta-vozes empáticos, muitas vezes num cenário ansiogênico de pressa controlada.

Palavra e tempo, especialmente, pelo impacto bifocal (quantitativo e qualitativo) do tempo – o tempo universal do relógio e o valor do tempo da vida de cada um-, formam uma adição que desafia a sensatez pretendida em percentual expressivo de consultas. Decorrências nomeáveis como desafios, dilemas e conflitos  – por exemplo, pelo impacto de uma escolha do paciente pelo não consentimento no prognóstico da doença que motiva um juízo profissional de despropósito- requerem muita cautela (leia-se discernimento) pela responsabilidade com a preservação de limites da ética/moral/legalidade nas tomadas de decisão de atitudes profissionais.

Saber qual é o quantum mais adequado no contexto de uma consulta de saúde e motivar-se para a proporção de uso do estado da arte é concernente à ética do profissional da saúde, mas quando não há a mesma sintonia pelo paciente no decorrer de uma consulta, então vale muito Alô Bioética!

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