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1191- O novo normal- imperfeito (Parte 3)

Há inúmeras invisibilidades num atendimento a necessidades de saúde caracterizando a metáfora dos 89% abaixo do nível de água do iceberg. A Bioética da Beira do leito coopera para dar legitimidade a mergulhos para percepção do submerso por meio do olhar crítico, solidário, humano, compassivo, prudente, responsável, beneficente, não maleficente e, muito importante na atualidade, que busca equilíbrio entre respeito ao direito do paciente à autonomia (voz ativa) e o dever profissional com o paternalismo, o brando.

Como parênteses, bioamigo, representa-se nos dias atuais por Vacinar ou Não vacinar, eis a questão, que desafia a obtenção do consenso que a ciência objetiva e que pela abertura ao desconhecido e ao imprevisível e pela tolerância à contra opinião devem estar presentes ao lado do rigor científico e que poderia admitir na prática a Unanimidade é burra de Nelson Falcão Rodrigues (1912-1980)… sem promover, entretanto, que o dissenso seria invariavelmente inteligente.

Há profunda ansiedade cercando as inter-relações do novo normal -imperfeito motivado pelo exercício do (não) consentimento pelo paciente. A imperfeição dos métodos, a incerteza sobre os resultados, a dúvida sobre adversidades comprometem atitudes profissionais com desmedida exigência de cumprimento para o paciente acerca de recomendações validadas beneficentes.

Testemunhamos pós-Belmont (1978) a radicalização da demonização do paternalismo, um maniqueísmo (Maniqueu, filósofo do século III) que logo foi percebido inconveniente para a conexão assistencial médico-paciente e, de certa forma, corrigido pela separação em duas categoriais por meio das adjetivações brando e forte.

O paternalismo, o forte é a modalidade coercitiva, proibitiva que se verificou ao longo da história de pesquisas clínicas na primeira metade do século XX, inaceitável, desumana, como ilustrado por Tuskejee de triste memória. Já o paternalismo, o brando, recobrou sua valorização de aplicabilidade assistencial, representativa do real interesse pelo bem-estar do paciente por parte dos profissionais da saúde, pela compreensão com eventuais contraposições ao recomendado, pela motivação em levar ao máximo os esclarecimentos a um leigo em situação vulnerável, em ausência de violências éticas, morais e legais.

O rigor tecnocientífico tem fortes raízes constitutivas na pesquisa e na experiência, mas incertezas são inevitáveis, o desconhecido não pode ser desprezado, as características pessoais do paciente precisam ser respeitadas.

O novo normal-imperfeito, relativo à atenção à saúde renova-se moldado pela ciência por um lado e pelo humanismo por outro lado. Não se pode afirmar na maioria das vezes que agora está mais certo, pelo dinamismo das metamorfoses. Pode-se dizer que haveria maior adequação a desejos, preferências, objetivos e valores, ou mesmo conciliações no entorno das imperfeições em processos de tomada de decisão.

Burocratizar o (não)consentimento do paciente por uma visão superficial do princípio da autonomia é desserviço à preservação da qualidade da sucessão de novos normais-imperfeitos, pois acrescenta mais imperfeições por carência de paternalismo- o brando.

O profissional da saúde que não deixa de praticar o paternalismo- o brando é daqueles agentes morais que podem afirmar que o que fazem não é exatamente trabalho – no sentido pesado-, mas, antes de tudo, um prazer – no sentido de acolhimento solidário e compassivo.

Não será exatamente isso que a sociedade deve admitir para seus profissionais da saúde? O desejo pelo bem-estar?

Há necessidade de discussão profunda e sequente dos alicerces do novo normal-imperfeito na conexão médico-paciente e a Bioética da Beira do leito interessa-se para ajudar a identificar o velho a eliminar, o novo a acrescer e o velho a renovar, ou seja, o que não mais é, e o que passa a ser.

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