A vivência na beira do leito comprova que há predomínio do desejo do benefício pelo paciente e da postura que deve confiar no médico. A contraposição é minoritária, mas com contundência de efeito. É uma minoria especial, nada a ver com uma visão contra-hegemônica, nada discriminatório, mas alinhada a uma cidadania individual. Ela tem direito de existir, de expressar dissensões, de ser respeitada em escolhas e, inclusive, pode vir a se tornar maioria por provocar caminhos adrede revistos como mais adequados.
A Bioética da Beira do leito entende que há uma dinâmica humana a ser bem compreendida no contexto da intenção do uso da medicina baseada em evidências. O pesquisador clínico usa uma minoria de voluntários de pesquisa e suas conclusões beneficentes etiquetadas como evidências científicas transformam-se em intenção de uso para maioria assistencial.
Percentual de pacientes – a minoria-, não obstante, desobriga-se de participar da beneficência cogitada. Uma persistência no passado acerca do recurso dispensado. Incomoda, mas acomodar é preciso, o que significa dispêndio de tempo quantitativo e qualitativo e justificativa para o paternalismo- o brando cuidar das movimentações de intenções.
Pacientes têm seus modos próprios – e humanos- de reagir a situações de estresse. Constituem-se dobraduras personalizadas de inquietações, especialmente quando envolvem qualidade de vida e sobrevida. Razão bastante para tornar a prática profissional na beira do leito incompatível com um conceito universal de “melhor interesse do paciente” apreciado tão somente pelo ângulo frio da tecnociência. Desdobrá-las requer educação e treinamento profissional.
É onde entra a arte de ser/estar/ficar médico, um ser humano aplicando tecnociência na área da Saúde a outro ser humano no ecossistema da beira do leito, ou seja, onde há extensa participação de influências bióticas e abióticas em meio a indeterminações das doenças e dos métodos aplicáveis.
É onde há valor no aperfeiçoamento das habilidades para fazer ajustes, onde há relevância na segurança emocional para lidar com interpretações pendulares sobre o uso da prudência e do zelo. Tudo é passível da crítica em circunstâncias da Saúde, mesmo a judiciosa aplicação de uma recomendação dimensão de efeito I com nível de certeza A de uma diretriz clínica altamente qualificada por uma sociedades de especialidade. Uma à disposição aguardando a disponibilidade e a disposição.
A Bioética da Beira do leito enfatiza que os médicos adquirem os hábitos de sua comunidade de interpretação que se articulam com a obrigação moral profissional. Pacientes, por sua vez, apreendem as orientações, submetem-se a intervenções sob o direito de liberdade de apreciação apoiada pelos esclarecimentos sobre o que não costumam saber. Pacientes ditos crônicos são ilustrativos, aproximam-se de uma harmonia de pensamento sobre terapêutica e prevenção com seus médicos, comumente sob alguma adaptação individualizada.
A Bioética da Beira do leito adverte que por mais frio que possa soar, o termo paciente sempre admite um significado de intenção de aprendizado de bons hábitos, de desejo por métodos beneficentes, com mais ou menos níveis de adesão, não necessariamente com ideal estabilidade e capacidade integrativa, mas, pelo menos, com subordinações temporárias a uma atividade dominante por bem intencionada recomendada pelo médico.