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1164- Sem dúvida, temos dúvidas (Parte 3)

A escrita tem o ponto de interrogação, a fala tem uma vocalização característica, a linguagem corporal tem gestos e expressões de dúvida presente. O bioamigo há de concordar que é vantajoso  admitir na dúvida dois componentes: um sujeito interrogativo – o profissional da saúde, por exemplo – e um objeto imperativo – as necessidades de saúde do paciente- que se articulam com uma circunstância. Assim procedemos cotidianamente, limpador de para-brisas ligado para prosseguir ético frente às dúvidas.

Sob o ponto de vista da Bioética da Beira do leito, a dúvida insere-se na contundência do compromisso com beneficência/não maleficência/autonomia influenciadora do raciocínio clínico de fundamentação na tecnociência e na virtude da tolerância para uma individualidade.

A Bioética da Beira do leito preconiza que o intelecto do profissional da saúde, por exemplo, no processo do diagnóstico, emite seus braços propedêuticos na direção dos fatos e dados do paciente, energizados por dúvidas. Pelo desenvolvimento das consequentes apropriações de informações, quando se aproxima da certeza, transforma num nome e não mais necessita daquela sequência de pensamentos. Em função do compactado num nome diagnóstico, redireciona os pensamentos – e dúvidas- para o planejamento terapêutico. De dúvida em dúvida da queixa à conduta, num ritmo de eliminação peculiar para cada (a)caso.

Bioamigo, sabemos como o desenvolvimento do ser humano é cheio de dúvidas. Pelas obscuridades, alimenta cartomantes, quiromantes, profetas, videntes e até retro alimenta Nostradamus (1503-1566), que, diga-se de passagem era médico. Muitas dúvidas no contexto da saúde foram eliminadas pela tecnologia pré-natal. Tantas outras se pretende pelo genoma. Mas nem a boa educação isenta sobre dúvidas de como o interior de cada um de nós reagirá aos impactos do exterior. Por exemplo, os impactos do sedutor progresso da tecnociência, que, em nome da dignidade humana, motiva a Bioética ao olhar pelo buraco da fechadura.

A Bioética de Paul Max Fritz Jahr (1895-1953) baseada na filosofia clássica e a de Van Rensselaer Potter (1911-2001) articulada com o pluralismo moral comungaram dúvidas sobre o futuro da humanidade- e de todas as formas de vida-  frente ao progresso tecnocientífico.

Mas nem tanto ao céu, nem tanto à terra, dúvidas não devem imobilizar. Ademais, não podemos esquecer de Arthur Schopenhauer (1788-1860): Toda verdade passa por três estágios: primeiro, é ridicularizada, a seguir, é violentamente contraposta e, finalmente, aceita como autoevidente.

As contradições da condição humana refletem-se, evidentemente, na beira do leito. A Bioética da beira do leito valoriza a base moral que alicerçada pela sabedoria e pela força de vontade faz os atos corresponderem aos princípios éticos.

Os profissionais da saúde que atuam em nossas beiras do leito sujeitam-se a Códigos de Ética específicos, mas a essência do profissionalismo está, idealmente, no fio condutor que parte do interior do profissional forjado na bagagem pre-profissional (família, escola, contatos com arte, pessoas, sistemas, etc…) e, uma dúvida crítica após outra, sofre ajustes  às vivências intra-faculdade e pós-formatura.

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