Bioamigo, Bioética da Beira do leito considera temeroso, nos dias atuais de tantas incertezas atuar na beira do leito desprovido da disponibilidade pela Bioética. Como dito por Arthur Schopenhauer (1788-1860): Toda verdade passa por três estágios: primeiro é ridicularizada, a seguir é violentamente oposta e finalmente é aceita como auto evidente. A Bioética coopera para reduzir/evitar as primeiras etapas.
Justificativa para a aplicação desta sabedoria na beira do leito é a habitualidade da dependência de decisões de informações que podem ser compreendidas diferentemente de acordo com a forma com que são apresentadas, com a visão de momento das opções e, tanto quanto possível com as amplas projeções sobre o futuro. Impactos negativos de más noticias, dor, sofrimento e, ao contrário, o conforto momentâneo dos alívios tendem a superestimar ou subestimar a ocasião e, assim, influenciar os rumos da tomada de decisão.
O processo de tomada de decisão terapêutica na beira do leito contemporânea costuma organizar-se de modo didático pela sequência: primeiro dá-se a Conduta Recomendável alinhada ao princípio da beneficência e sustentada pelo estado da arte vigente – visão da doença; a seguir dá-se a Conduta Aplicável por uma filtragem por poros determinados pelo princípio da Não maleficência e sensível às individualidades biológicas do paciente – visão do doente; em seguida, dá-se a Conduta Consentida articulada com o direito do paciente ao princípio da autonomia – visão psicossocial. A Ética da responsabilidade é amálgama entre elas pela qual devemos responder não somente por nossas intenções ou nossos princípios, mas também pelas consequências de nossos atos, tanto quanto possam ser previstas.
Bioamigo, pode-se dizer que o Consentimento livre, esclarecido, renovável e revogável pelo paciente instrumentaliza a integração entre visão tão somente tecnocientífica da situação clínica obtida desde o paciente e visão pela captação de aspectos da pessoa do paciente como desejos, preferências, objetivos e valores. O efeito deve ser respeitado como Sim é Sim, Não é Não. Mas, há também o Talvez que desembocará num Sim ou num Não em função do uso de um tempo qualitativo para pensar, sentir e decidir.
A Bioética da Beira do leito adverte que não é indevido pensar que um heterogêneo conjunto de circunstâncias costuma cercar a doença e interferem na prática do direito à autonomia por parte do doente. A autodeterminação pode colidir com o caráter gregário do ser humano- interpessoalidades e efeitos sociais- e sofrer forte influência das tradições.
Não se espera que respostas do paciente em contraposição ao profissionalmente recomendado – o Não– sejam recebidas de modo neutro, seria incoerência com a posição manifesta ao paciente, mas, espera-se a imparcialidade crítica como convém ao profissionalismo. O médico não é neutro diante da necessidade imperiosa de uma transfusão de sangue, especialmente porque o recurso está disponível para o benefício prognóstico, mas pode compreender que o não consentimento de paciente Testemunha de Jeová tem suas razões fora do aspecto clínico. Inter-relações entre neutralidade e imparcialidade provocam inseguranças éticas e legais e a Bioética tem muito para prover coordenadas bilaterais de apreciação/aceitação.
Estilos profissionais existem e cada exercício do consentimento pelo paciente inclui peculiaridades da emissão e da recepção das informações. Há influências individuais e coletivas que repercutem sobre o uso do direito à autonomia, pois nem sempre há a possibilidade de se dispor do pretendido. Um exemplo do cotidiano: Doutor, não desejo fazer nenhum exame, me passa um antibiótico de amplo espectro daqueles que são tiro e queda para as infecções, o senhor conhece bem.