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1150- Preocupação profissional na beira do leito e Bioética (Parte 6)

Bioamigo, mentalizemos um atendimento ambulatorial rotineiro. No decorrer da anamnese, já costuma surgir um monte de preocupações. O médico sente que o paciente não está transmitindo com clareza, sente que o paciente é prolixo e se desvia do foco primário, sente que há necessidade de complementos sobre os sintomas, sente que o caso demanda urgência. Daí, o médico pensa sobre a necessidade de proceder a ajustes de captação e como atuar nas intervenções (sentir, pensar, atuar).

Na sequência, o médico propõe-se ao exame físico tendo preocupações mais elaboradas em atenção à anamnese e adiciona outras no decorrer do mesmo, ou seja, acréscimos ou reduções de preocupações. Assim, bioamigo, num espaço de tempo relativamente curto, pode ocorrer uma curva exponencial de preocupações, o que fica bem ilustrado num Pronto Socorro.

Vale enfatizar que além do aspecto quantitativo, importa muito o qualitativo, a ser distribuído num ranking de prioridades. O prontuário do paciente, não deixa de ser, pois, um registro de preocupações, ora fermentações, ora avanços, ora impasses.

Bioamigo, auto pilotagem pode ser termo adequado para nomear o hábito de o profissional da saúde na beira do leito produzir preocupações profissionais instrumentalizado pelo sentir, pensar a respeito e mentalizar atuações. É motivação para a Residência médica, a pós-graduação que facilita certa independência e sensação de auto realização na percepção e na condução das preocupações indispensáveis.

Em outras palavras, o exercício caçador-coletor do profissional da saúde sobre dados e fatos do paciente, alimenta preocupações como  atividade preparatória para o subsequente exercício empreendedor-transformador da aplicação terapêutica. Admite preocupação com o controle da situação clínica, com os recursos a dispor, com o risco/benefício dos métodos e com a própria imagem profissional em face das possibilidades tecnocientíficas e de sua capacidade para enfrentar desafios e dilemas em meio às necessidades de interpretar e organizar.

A vivência na beira do leito determina uma coleção de ciclos de sentir/pensar/atuar, pois como a partir do dito por Aristóteles (384 ac-322 ac): É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer, pode-se entender que É sentindo que se aprende a pensar naquilo que se deve sentir para pensar. Os ciclos acontecem ao profissional da saúde segundo uma moldura heteronômica e têm fortes influências de si próprio. Assim, ajustam-se gatilhos do sentir com o pensar como atuar, levando em consideração as emoções dos choques entre o exterior provocativo e o interior reativo.

A Bioética da Beira do leito interessa-se, sobremaneira, pelas repetições de emoções negativas nas realizações profissionais como condicionantes de comportamentos na beira do leito – modo negativo das preocupações. Elas trazem tendência para um direcionamento dos pensamentos no sentido da evitação de vir a sentir, temor de se perceber longe do controle. O contrário – modo positivo das preocupações- pode-se dizer com as repetições de emoções positivas, que massageiam a autoestima. Um reforço do valor da Residência Médica numa instituição qualificada.

As filtragens de expectativas em função da intensidade de frustrações são muitas vezes inconscientes, os distanciamentos incorporam-se sorrateiramente ao estilo profissional e tudo se passa como uma obrigatoriedade interna. Assim, todas as vezes que determinado cenário se delineia, o profissional da saúde estará se sentindo diante do potencial de provocar a emoção indesejável, pavloviano (Ivan Petrovich Pavlov, 1849-1936, Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1904). Uma vez na rotina, fica difícil mudar o modo do pensar como se sente, e quase impossível suprimir, deixar de pensar preocupado, por isso, as “fugas”.

O tema preocupação na beira do leito articula-se com a aplicação do princípio da autonomia para o profissional da saúde. Bioamigo, de modo simplista, podemos dizer que o estudante se põe mais ou menos à vontade para atuar como profissional em função, primeiramente, da bagagem pré-profissional forjada na educação com que entra na faculdade e, a seguir, do conjunto de ajustes proporcionados pelas adaptações à profissão. Assim constrói um estilo e procura na medida do possível atuar em consonância, o que é fonte permanente de preocupações com a consciência. É realidade para a qual Comitês de Bioética se dispõem a servir como fórum de apoio.

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