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1146-Preocupação profissional na beira do leito e Bioética (Parte 2)

Bioamigo, o sentimento da preocupação é comum ao profissional da saúde, mesmo experiente, pois os calos desenvolvidos no cotidiano da beira do leito amortecem mas não eliminam os impactos. Preocupar-se com o paciente e com tudo que dele deriva é do domínio do escrúpulo profissional, da essência moral do profissionalismo, uma imposição mesmo quando se deseja a excelência. Bioamigo, constitui um truísmo, mas parece justificável analisar as configurações atuais à luz da Bioética.

Há sempre alguma lacuna que se põe no meio do caminho e gera preocupação. É possível dizer que um atendimento de saúde sem preocupações está incompleto e corre o risco de interpretações de indiferença. Que paciente sente-se satisfeito quando decodifica um “nem estou aí com você” da atitude do médico, como figurado nos “macacos sábios”, no momento do seu atendimento? Um desvio antiético dos motivos da preocupação profissional.

 

Preocupações profissionais alinham-se às características bióticas do ecossistema da beira do leito. Hipócrates (460ac-370ac) inaugurou a preocupação profissional. Ele retirou dos deuses o que poderia ser chamado de medicina na época e a transformou em um ser humano cuidando de outro ser humano, e, logo em seguida incorporou e privilegiou a preocupação profissional por meio da imortal premissa do “primum non nocere”. No popular, Não inventem!  Uma primitiva noção de medicina baseada em evidências conforme a época.

Na verdade, “primum non nocere” – tão imortal quanto o seu autor- refere-se a um jogo de preocupações. Bioamigo, a preocupação com a morbidade, presente e futuro, não deve inibir a ampla preocupação com efeitos da conduta, que conformar-se com a história natural ao usar somente o conhecido era mais apropriado do que arriscar uma beneficência no escuro. Decerto, uma intuição sobre o valor do pensamento científico.

Como se sabe, Hipócrates recomendava à parturiente analgesia por mascar folhas do salgueiro, acreditava que o reforço pela observação  do bom efeito era moralmente admissível para a recomendação. Assim como aconteceu com a descoberta da digitalina por William Withering (1741-1799) e da vacinação por Edward Jenner (1749-1823), houve uma captura do conhecimento testado pelo tempo desde a sociedade. Curiosamente, o “princípio ativo” do salgueiro – ácido acetil salicílico- foi constatado pelo exame da casca do salgueiro pelo reverendo inglês Edward Stone (1702-1768), cerca de 20 séculos após, num pântano causador de febre do pântano. A motivação pela procura foi  o raciocínio religioso que há uma colocação de remédio junto à doença – uma preocupação divina. Bioamigo, a ciência vê a essência, mas a espiritualidade é essencial.

Registra a história da medicina que foi difícil na Grécia Antiga apor legitimidade às orientações do pioneiro em meio às diversidades de cada situação e pessoa. Causou uma preocupação original da medicina que precisava desviar-se dos hábitos de procura do Olimpo com fé (crença já vislumbrando o resultado). Havia o imperioso da substituição com confiança, exigente de determinação quanto a um desfecho, criara-se uma bifurcação e era preciso prosseguir pela escolhida e ser devidamente seguido, apesar dos ceticismos.

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