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1133- O Não consentimento pelo paciente tem muitas dobras (Parte 2)

Bioamigo, venhamos e convenhamos, embora graus de imaturidade no paciente vulnerável sejam sempre possíveis e seja habitual a presença de influência de circunstantes, o respeito ao direito ao princípio da autonomia materializado no Consentimento livre, esclarecido, renovável e revogável, não pode deixar de ponderar sobre a falta de treino do paciente para tomar decisão, sobre sua efetiva capacidade de alcançar os aspectos técnicos com que trava contato pela primeira vez, sobre seu interesse em, de fato, se debruçar sobre os prós e os contras da aplicação, sobre a disposição para fazer escolhas, sobre a assunção de responsabilidade e manutenção do decidido. Ademais, habitualmente, pretende-se uma resposta imediata e os períodos de tempo disponíveis pelos pacientes para um Sim ou um Não estão longe de serem os suficientes para a maturação das ideias a respeito. Afinal, bioamigo, quanto tempo levou o médico para organizar, compreender e capacitar-se para transmitir o que está recomendando?

Bioamigo, o Não Consentimento  pelo paciente é infrequente, mas quando acontece tem o efeito de causar grande tensão na conexão médico-paciente. Os abalos são inevitáveis e num primeiro momento produz-se frustração profissional pela sensação de uma oposição à medicina. Porém, é razoável ter em mente que o Não do paciente representa, comumente, mais um não para si próprio do que para o médico, ou seja, é produto de combinações de desejos, preferências, objetivos e valores e não determinadas por negação da competência profissional/confiança na medicina. São ilustrativos dos fatores causais destas rupturas os temores a sofrer adversidades registradas na bula de um fármaco e as razões religiosas de pacientes Testemunha de Jeová a respeito da transfusão de sangue.

A Bioética da Beira do leito entende que a visão de não oposição do paciente ao médico em si, quando isenta de um dogmatismo, facilita conceber o Não consentimento como uma reação provisória, passível de uma discussão reversiva. Suscita-se, assim, a prática do Paternalismo- o brando que prolonga a comunicação em busca de um suspiro de alívio, esperança de nova oportunidade, inclusive com ajustes determinados pela compreensão das coerções internas presentes no paciente, evidentemente sem nenhuma coerção externa pelo médico.

Bioamigo, o suspiro de alívio acima mencionado significa a persistência de uma real preocupação com o paciente, o entendimento isento de narcisismos que aquela primeira reação do paciente é humanamente justificável, mas passível de reconsiderações pelo diálogo compreensivo que trabalha sobre restrições presentes nem utópicas, nem dogmáticas.

Tentar de novo uma verossimilhança entre beneficência/não maleficência e autonomia para a especificidade da situação é preciso, vale a iniciativa de se dedicar em busca de nexos para as impressões reveladas. É prática que revela o valor da coragem criativa estimulante de novos encontros para melhor explorar limitações e expansões.

Numa tomada de decisão, pontas soltas nunca deixam de existir, até porque os compromissos com a Ética e interpretações de fundamentação na Bioética predispõem. A máxima superposição do idealizado conforme a Tecnociência beneficente/não maleficente só seria realizável num ser humano numa atuação profissional autoritária, evidentemente inadmissível na beira do leito contemporânea.

Agora, se a iniciativa de transformar o Não ainda provisório num Sim consciente falhar, se persistir o Não consentimento do paciente, que o dissenso se acompanhe da sensação de missão profissional cumprida e num nível melhor de conexão. È mais reconfortante para o compromisso compassivo, evita o perjúrio ao Juramento de Hipócrates, representa um sonoro Não à burocratização do consentimento na beira do leito.

Afinal médicos quando pacientes não apresentam intenções negacionistas sobre o que costuma praticar profissionalmente?

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