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1128-O mito de Pigmalião, a Bioética e o Paternalismo-o brando

A Bioética é vigilante para evitar que a disponibilidade tecnológica afaste a pessoa do médico da pessoa do paciente, o que poderia ser apreciado como  uma robotização/desumanização da beira do leito.

A inter-relação humana na beira do leito com sua característica instrumentação pela linguagem é legado hipocrático. Hipócrates (460ac-370ac) afastou o que seria medicina dos deuses e criou a relação médico-paciente de carne e osso. O tempo associou recursos variados para a prática qualificada do seu tempo.

Bioamigo, a mais alta das tecnologias observadas na beira do leito persiste a mente humana que comanda insubstituíveis habilidades tradicionais como anamnese, exame físico e raciocínio clínico e seus desdobramentos sobre diagnóstico, planejamento/aplicação/acompanhamento terapêutico, prevenção primária e secundária e prognóstico.

O comandante cérebro do médico atua apoiado por distintos níveis de tecnologia como os menores, clássicos, que resistiram pela eficiência a se tornar obsoletos – o termômetro clínico, o estetoscópio, o esfigmomanômetro, a radiografia simples- e os inovadores, elevadas tecnologias que transformam os atendimentos – métodos de imagem,  informática aplicada à Saúde. A Inteligência artificial  amplia a contribuição, softwares programados pelo ser humano e que aprendem automaticamente com informações e padrões.

O extenso e diversificado aparato disponibilizado na beira do leito contemporânea possibilita prover necessidades de saúde de um paciente, ou seja, o conceito aplicável é que o médico não possui a medicina, ele põe seu conteúdo /estado da arte em prática para benefício do paciente. Por isso, nada na beira do leito deve acontecer sem que haja o consentimento livre e esclarecido do paciente, um símbolo do respeito à dignidade humana em situações de maior vulnerabilidade. À disposição, disposto a disposições de ajustes.

A ausculta de profissionais da saúde atuantes na beira do leito identifica que muitos acham que o médico está com a autoridade profissional abalada pela capacidade esclarecedora da tecnologia inovadora e pela maior participação crítica do paciente no processo de tomada de decisão.

A Bioética da Beira do leito entende, todavia, que a altíssima tecnologia do cérebro atuante em prol da medicina por 26 séculos está na verdade ganhando com a aquisição de subsídios contemporâneos que permitem empreender uma excelência da medicina constantemente renovada em espiral ascendente. Em outras palavras, o médico continua – e mais qualificado- como agente essencial da integração entre ciência agora e sociedade agora na área da saúde.

A sensação de médicos que possam estar sendo retirados de suas funções motiva rever os mitos. O motivo é que os inícios de histórias dos heróis que compõem a mitologia são, habitualmente, o sentimento de usurpados de algo, sentem-se incompletos e vão em busca do resgate. Aprimoramentos/transformações são conseguidos na jornada pela compreensão e pela sabedoria.

Um mito que ajuda na circunstância é Pigmalião, um símbolo da criatividade associada à capacidade laborativa.  Pigmalião foi o mitológico rei de Chipre que, escultor e desgostoso com os modos das mulheres da ilha, esculpiu uma estátua feminina e dela se enamorou. Pigmalião convenceu a deusa Afrodite a dar  vida à escultura, a que chamou de Galatéia, e, atendido, se casou com a mulher idealizada. A narrativa representa viver segundo sua vontade, uma manipulação dita antropoplástica.

“Pigmalião e Galateia” – Pintura a óleo sobre tela da autoria de Jean Louis François Lagrenée (1724-1805)

A Bioética da Beira do leito lembra: Apesar da honestidade de propósitos de Pigmalião, apesar da idealidade prevista de comportamentos, apesar da perspectiva de “viverem felizes para sempre”, será que a estátua, no decorrer do processo de transformação, teria a oportunidade de ser consultada se queria se tornar um ser humano? A deusa  Afrodite  permitiria um livre-arbítrio? Ademais, Galatéia humana, forjada segundo um propósito bem específico,  teria sido instada a expressar consentimento para se casar com o absolutista Pigmalião?

Mas – sempre existe um mas- por outro lado, a determinação para perseguir os anseios, sustentada pela convicção do benefício, pode provocar a transformação do inerte em dinâmico, do depresso em animado, do incrédulo em crédulo. Por isso, o mito de Pigmalião ao se prestar à ideia que a expectativa bem trabalhada influencia a realidade.

A Bioética da Beira do leito entende que a inferência endossa a aplicação do Paternalismo- o brando como justa expectativa por um consentimento do paciente, pois sustentado por boa-fé cognitiva/afetiva/comportamental – e rigidamente isento de  coerção.  A propósito, Galatéia correspondeu ao amor de Pigmalião e tiveram dois filhos.

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