Dentro de limites, a Bioética da Beira do leito se identifica com pressupostos da idealização da Medicina Baseada em Evidências como formulação de uma questão clínica, busca pela literatura pertinente, avaliação crítica e- imprescindível- seleção vinculada à experiência de fato vivenciada.
É útil caminhar por labirintos de clínica tendo evidências científicas como fio condutor da saída, desde que o rigor tecnocientífico na condução não deixe de se acompanhar de aberturas para o desconhecido e o imprevisível e da tolerância quanto a opiniões opostas.
A Bioética da Beira do leito enfatiza que cientificismo/tecnicismo e humanismo não são tão amigáveis como alguém possa pretender, é preciso que os pensantes conceptualizem as próprias mentes e a dos outros para melhor entenderem e reverterem discordâncias, em função das múltiplas perspectivas sobre o conhecimento, sua origem, significado e aplicação.
Em outras palavras, quem pensa precisa ter clareza sobre alinhamentos entre evidências e atitudes, pois desarrumos podem causar conflitos na conexão profissional da saúde-paciente ou mesmo em saúde pública. Não é incomum observar desinteresse de pacientes ao tipo de bem-estar entendido pelo profissional da saúde como altamente desejável, assim rejeitando justificativas da legitimidade da aplicação da força produtiva da tecnociência. É razão para fracasso de recomendações para a prática de hábitos mais saudáveis.
A etiquetagem como evidência segundo uma semântica de melhor informação orienta sobre o valor da transposição de um conhecimento da fonte bancada para atuação beira do leito, qualifica a intenção e avaliza o papel. Frequentemente, a evidência resulta de um efeito bumerangue, parte como interrogação desde a beira do leito e a ela retorna como asserção qualificada.
Passadas algumas décadas desde seu nascimento oficial, a Medicina Baseada em Evidências persiste motivo tanto para a coleção de adeptos sobre suas vantagens de redução das variações da prática clínica e restrição ao uso do não provado, quanto para a reunião de opositores que entendem que ela ignora o equilíbrio que deve existir entre observação e teoria, provê total superioridade a estudos randomizados e a meta-análises, desconsidera circunstâncias individuais e limita a autonomia do médico no âmbito da prática contemporânea na beira do leito.
Certamente, há situações onde as evidências científicas devem ser padrão-ouro para a conduta e há situações onde a aplicação carece sua afirmação. Neste aspecto, a Bioética da Beira do leito entende que evidências é uma coleção a ser consultada e processada de acordo com circunstâncias. Acresce que nem sempre haverá disponibilidade de evidências científicas para uso e quando há seleções dentre elas podem ser difíceis.
A Bioética da Beira do leito adverte que a Bioética é útil para que a aplicação da Medicina Baseada em Evidências ocorra com o máximo dos prós e o mínimo dos contras que a literatura médica coleciona de modo judicioso. A integração da pesquisa clínica determinante de evidências com os princípios da Bioética e a visão da ética da responsabilidade precisa se dar de modo o mais harmonioso para suprema prudência no processo de tomada de decisão. O acompanhamento do noticiário sobre o desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19 quanto à eficácia e à segurança tem sido ilustrativo para a sociedade em geral e uma organização pela Bioética facilita aclarar e debater inevitáveis controvérsias.
Como dito por Albert Einstein (1879-1955): A ciência pode somente verificar o que é, não pode o que deveria ser e fora do seu domínio juízos de valor de várias naturezas se fazem necessários.