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1068- Proxêmica e beira do leito (Parte 3)

A Bioética da Beira do leito reforça que o modo como a linguagem corporal se desenvolve num atendimento de saúde é útil, não somente para dar subsídios para o raciocínio clínico do médico, como também para dar ao paciente uma noção do nível de interesse do médico. De fato, pode haver reforço do contato, ampliação do nível de confiança e até um efeito placebo terapêutico.

Atualmente, desenvolve-se uma nova cultura interpessoal entre médico e paciente por meio da teleconsulta. Acresce, pois, a teledistância à ciência da proxêmica criada pelo antropólogo Edward Twitchell Hall (1914-2009), algo misto entre distância íntima e pessoal numa integração eletrônica.

A teleconsulta faz uma brecha no tradicionalismo da conexão médico-paciente mas mantém-se a ele ligado- note-se a preocupação com a preservação do sigilo profissional-, vincula-se a uma realidade concreta dos novos tempos, uma infiltração tecnológica sem obrigatoriamente subverter o plano moral hipocrático. Para quem dúvidas de desfechos éticos, pense no telefone que foi sempre usado, agora com imagem, ou seja, uma prática  antiga aperfeiçoada.

Há vários aspectos éticos da teleconsulta sujeitos a discussões e a Bioética da Beira do leito adverte que qualquer um deles não pode deixar de envolver o quanto de informações habitualmente obtidas pela linguagem corporal no atendimento presencial pode ficar prejudicado de captação.

A ainda novidade é  circunstância em que o cuidado e a atenção devem ser redobrados. A imagem por vídeo amplia os detalhes. Especialistas recomendam que o profissional da saúde mantenham a base corpora bem apoiada, imóvel mesmo, ou seja, atentar para deixar a coluna ereta, ombros relaxados e tronco inclinado na direção da câmera.

A orientação é que os gestos naturais do profissional da saúde ocorram na linha da cintura, no máximo na altura do tórax, pois a elevação das mãos sugere certo descontrole da situação e, ademais, pode competir com a expressão do rosto. A face do profissional da saúde deve estar o tempo todo exposta, assim denotando interesse, transparência e veracidade. O olhar sempre direcionado para a câmera contribui para formar a percepção de “olho no olho”, fonte de confiança e credibilidade. Do mesmo modo, quando o paciente fala, o médico deve olhar para a sua imagem.

Enquanto que o tele exame físico depende de inovações tecnológicas que estão em desenvolvimento, o diálogo é o preponderante atual da teleconsulta, idealmente na presença do prontuário do paciente que serve de memória do que já aconteceu e de registro do que passa a acontecer.

Nessa condição, a falta da proximidade física da teleconsulta deve ser compensada pela expressão verbal, inclusive dos sentimentos do profissional da saúde. A fala deve ser clara, assertiva, e indicar claramente o que se espera do paciente em cada momento da teleconsulta.

Uma diferença capital para o de fato presencial é, justamente, a respeito da noção de território/espaço/zona. O paciente não se encontra  inserido no território habitual do médico – o consultório, por exemplo, inclusive, ele conserva sua zona de presença habitual – a sala do seu domicílio, por exemplo.

Este aspecto espacial impacta na emissão e na captação da linguagem corporal que porventura se manifeste. Há mais sons do que imagens – estas podem ficar fixas no decorrer da teleconsulta-, mais  linguagem verbal e menos linguagem corporal neste tipo de conexão médico-paciente sob teledistância.

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