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1062- Prudência e sinal amarelo

Bioamigo, há uma diretriz clínica, há um artigo de revisão, há um capítulo num livro, tudo bem atualizado e confiável. Você os utiliza para a tomada de decisão na beira do leito. Significa intenção de com se comprometer com evidências científicas, mas nem sempre há disponibilidade das mesmas.

Repetem-se circunstâncias onde não há orientações de beneficência calcadas em estudos sistematizados e recomendações resultam do que chamaríamos da especialização, onde cabe uma calibragem de plausibilidade (probabilidade a priori).

Desde a lembrança do paraquedas que não necessita de confirmação científica de benefício por estudo duplo cego até a lição do mito de Procusto que desaconselha atitudes acríticas segundo um padrão pré-determinado, o profissional da saúde transita por composições de escolhas de métodos com proporções individualizadas de sustentáculo tecnocientífico conforme a Medicina Baseada em Evidências.

A Bioética da Beira do leito enfatiza ao profissional da saúde o valor do rigor científico que, entretanto, precisa ser temperado com aberturas ao desconhecido/imprevisível e com tolerância a contraposições de opinião, haja vista a surrada expressão que ciências da saúde não acolhem exatidões de efeito por mais matematização que se pretenda por escores.

Evidências científicas beneficentes como conclusões de pesquisas clínicas admitem rótulos de não inferioridade de benefício em relação ao já recomendável e de superioridade ao mesmo. A não inferioridade pode sustentar o uso com menos potencial de adversidades e com mais ajuste social, enquanto que a superioridade traz a conotação da preferência de aplicação por mais expectativa de sucesso.

O semáforo no trânsito é daquelas invenções que já nasceram longevas. O vermelho foi herdado da ferrovia, o verde foi incorporado no lugar do original branco por razões técnicas e o amarelo foi escolhido pela capacidade de distinção do verde e do vermelho. A rígida posição das cores facilita ao daltônico. A beira do leito admite o sinal de trânsito como metáfora numa conduta terapêutica.

A Bioética da Beira do leito entende que o sinal amarelo é um forte elemento da prudência- ética e virtude – que permanece aceso em vários momentos de expansão e de limitação da composição da conduta clínica. Diríamos que a lapidação da conduta clínica é clareada pelo significado cautelar da luz amarela do semáforo.

Bioamigo, todo profissional da saúde aprende que é inevitável ter que lidar  com a exposição ao risco, a identificação da incerteza, o surgimento do acaso e o reconhecimento do então desconhecido. Tais contatos profissionais exigem a força cognitiva da precaução na escolha dos meios, na medida em que preservar o futuro do paciente – fidelidade ao futuro como missão- está nas mãos de uma boa decisão, que entre outros atributos precisa estar imune tanto a certas seduções da esperança, quanto a  conhecidos perigos da utopia. O mito de Ícaro é ilustrativo do cuidado que se deve ter com a segurança – nem muito baixo para não molhar as penas de gaivota nem muito alto para que o calor do sol não derreta a cera de abelha.

Bioamigo, todo profissional da saúde aprende que é inevitável ter que lidar  com a exposição ao risco, a identificação da incerteza, o surgimento do acaso e o reconhecimento do então desconhecido. Tais contatos profissionais exigem a força cognitiva da precaução na escolha dos meios, na medida em que preservar o futuro do paciente – fidelidade ao futuro como missão- está nas mãos de uma boa decisão, que entre outros atributos precisa estar imune tanto a certas seduções da esperança, quanto a  conhecidos perigos da utopia. O mito de Ícaro é ilustrativo do cuidado que se deve ter com a segurança – nem muito baixo para não molhar as penas de gaivota nem muito alto para que o calor do sol não derreta a cera de abelha.

semaforoRelaciono abaixo cinco momentos de atenção ao significado do sinal amarelo na beira do leito -estrategicamente situado no meio- que compõem a integração entre o externo da tecnociência e o interno das pessoas intervenientes.

Momento Incompletude

Uma atenção ao significado do sinal amarelo é o reconhecimento de alguma incompletude, quer sobre o (a)caso clínico em si, quer sobre devidos conhecimentos e necessárias habilidades. Por vezes, a preocupação pode ser com algum exagero. Como dito por Antoine de Saint-Exupery (1900-1944) quando nada há a acrescentar, não esqueça de  verificar se não há nada que ainda deva ser tirado.

Momento Moral
Uma atenção ao significado do sinal amarelo é avaliar que além do respeito ético e legal, eventuais questões morais possam estar necessitadas do devido equacionamento, como as do adolescente amadurecido ou da futilidade/obstinação terapêutica. Segundo Arthur Schopenhauer (1798-1860) a compaixão é a base da moralidade. 

Momento Conflito de interesse

Uma atenção ao significado do sinal amarelo diz respeito ao auto convencimento pelo profissional da saúde que não está sob efeito nocivo de um conflito de interesse material ou intelectual. Samuel Johnson (1709-1784) alertou que o conhecimento sem integridade é perigoso e terrível.

Momento Não maleficência

Uma atenção ao significado do sinal amarelo é o respeito ao princípio da não maleficência, pois individualidades biológicas do paciente podem desaconselhar de modo mais ou menos forte a recepção do método conceitualmente beneficente. Horácio (65ac- 8ac) nos lembra o valor da boa relação entre possibilidade de adversidade e mente equilibrada. 

Momento Autonomia

Uma atenção ao significado do sinal amarelo é o respeito ao direito do paciente de manifestar-se ativa e livremente  (princípio da autonomia) desejos, preferências, objetivos e valores de influência sobre sua decisão de consentir ou não, parcial ou totalmente, em resposta à recomendação beneficente do profissional da saúde. De acordo com Friedrich Nietzsche (1844-1900) é difícil lembrar como opinei sem me lembrar das razões que tive.

Uma vez aceso o sinal verde (ele não tem a sequência pós-vermelho do semáforo), a condução terapêutica necessita ter uma gradação do amarelo no sentido de cautela, ponderação, controle permanente em função da conjugação de previsibilidades e imprevisibilidades, redundâncias e variações, regularidades e anomalias evolutivas.

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