Na prática da ética médica na beira do leito colecionei narrativas, percepções e atitudes. Propus-me a estar realista, idealista e pragmático na cogitação das condutas e enfrentar vacilações entre opostos de circunstâncias e de pessoas de uma maneira objetivando alcançar a melhor afirmação. Apesar de desafiar-me a um a todo custo pelo profissionalismo, foi inevitável convencer-me de muitos nada inaceitável e resolver ambivalências e de outros tantos nada rejeitável e evitar a indiferença.
No vaivém de colonizações e descolonizações do pensamento pelos influxos da ética, das formulações do que poderia ser ponte para viabilizar conexões ou ser barreira indiscutível contra infrações, nos primeiros anos após a graduação, contei diretamente com a geração imediatamente anterior a minha, incisiva e limitadora, e, indiretamente, com a prévia a esta, moderadora. Assim, pude absorver o exemplo como grande educador e, na sequência, pelo endosso do valor, procurei como retribuição hipocrática representar por algumas décadas de orientação o exemplo para jovens sequiosos de adquirir profissionalismo- profissão mais do ocupação.
A expectativa de vida útil profissional elevou-se desde a minha graduação e ocorre que, atualmente, a beira do leito convive com cinco gerações de profissionais da saúde. Fato que proporciona ao recém-formado – e porque não aos mais antigos- maior número de oportunidades para a plasticidade ética, ou seja, mais chances para desenvolver ajustes de natureza ética às sucessivas e aceleradas realidades da conexão com o paciente. Lições cotidianas para que o intrínseco Sou ético possa sentir-se Estou ético em cada situação profissional.
A significância da ética é sagrada nas ciências da saúde. Não deixa, contudo, de provocar uma ambiguidade no contexto da conexão profissional da saúde-paciente, por um lado, uma parcimônia e frieza na menção do termo, por outro lado, uma alta demanda calorosa sobre sua presença atuante na beira do leito. Mais e mais a cada vez o profissional da saúde é instado a ser um caçador-coletor de ética e, ao mesmo tempo, um semeador-criador. Extrair e repor ética é preciso para promover uma forte consciência sobre como realiza a empreitada.
A Ética organiza-se num instrumento prescritivo profissional – específico para cada profissão- denominado de Código de Ética, que poderia ser muito bem chamado de Código Moral pois abrange verdades de um pluralismo moral, especialmente na beira do leito. No Brasil, a lei No 3.268 de 30 de setembro de 1957 dispõe que é atribuição do Conselho Federal de Medicina votar e alterar o Código de Deontologia Médica, ouvidos os Conselhos Regionais. O nosso atual é o nono vigente e data de 2018 -os predecessores são de 1929, 1931, 1945, 1953, 1965, 1984, 1988 e 2010.
Saliente-se que o caput É vedado ao médico introduzido a partir do Código de Ética da Associação Médica Brasileira de 1953 propõe-se a facilitar ao médico lidar sob certa uniformidade com fundamentos morais gerais na execução de um profissionalismo que se pretende alinhado ao certo/bom/justo para as inúmeras facetas da aplicação e da recepção da tecnociência validada. A Bioética da Beira do leito tem críticas a esta redação de imposição externa no lugar de uma iniciativa do caráter do profissional, mas reconhece sua expressão pedagógica.