A Bioética da Beira do leito lembra aos profissionais da saúde que o ambiente de uma tomada de decisão sobre as necessidades de saúde do paciente pode ser visto com simbolismo comparado ao do que o oráculo de Delfos representava para o inconsciente coletivo dos gregos antigos.
Trata-se de local para receber razão e lógica do profissional da saúde a fim de moldar forma, proporção e significado para facilitar ao paciente lidar com inseguranças tensas. A analogia uma vez concretizada na prática é fator de desenvolvimento de confiança do paciente no profissional da saúde numa moldura de antecipação, esperança e fé.
A Bioética da Beira do leito adverte que por mais familiar que uma palavra soe para o paciente – e até por isso mesmo-, pode gerar mais de um sentido. A multiplicidade tem o potencial efeito de gerar diferenças de conscientização pelo paciente das informações emitidas pelo profissional da saúde. Exemplos de desarmonia não faltam e o bioamigo logo se lembrará de vários. Por isso, a importância de assegurar-se que o paciente realmente tenha compreendido a mensagem do profissional da saúde visando ao consentimento.
É circunstância que traz para a beira do leito o conceito de direito da personalidade que abriga a liberdade e a intimidade. A idealidade da missão do profissional da saúde no processo de consentimento exige tempo disponível, essencial para evitar a sensação de constrangimento/desatenção/imposição por parte do paciente, um grande entrave da conexão interpessoal na contemporaneidade da beira do leito.
Muitas reclamações de pacientes que surgem por ocasião de evoluções, especialmente as desfavoráveis, indicam que o nível de esclarecimento pré-procedimento precisaria ter sido alvo de melhor dedicação profissional. Retrucar ao paciente que ele sabia da possibilidade atestado por uma assinatura num Termo pode valer para a beira de um tribunal, não para a beira do leito.
A internalização da fala do mestre apresentada anteriormente foi uma semente motivadora do valor da empatia autêntica. Dela germinou a compreensão que vivenciar os efeitos da ética ao longo de inevitáveis tensões das confrontações bem/mal, bom/mau, certo/errado estimula questionar a atualidade, renovar juízos sobre habilidades, reciclar sentidos profissionais, enfim (re)construir e fidelizar convicções éticas atravessando os problemas, valorando sem desvios da integridade e ao mesmo tempo ciente da responsabilidade interpessoal pelos efeitos das condutas desenvolvidas.