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1031- Ética pratica-se (Parte 10)

A ética começa e termina com o próprio profissional da saúde e da experiência social imprescindível para a preservação das ciências da saúde produz-se a linguagem ética – uma ética informal, uma sabedoria ética- e que levamos sempre conosco e mesclamos à linguagem geral utilizada nos cuidados com a saúde.

O Professor Fraga Filho havia antes informado que o estudante de medicina à medida que acumula conhecimentos tem necessidade de adquirir a compreensão do que eles irão representar para os pacientes. É a obrigação de aprender a aplicar o conhecimento de uma maneira humana, razão da ética alinhada a uma consciência maior e a uma receptividade a sensações sobre escolhas do como fazer. Evidentemente, a metabolização da sabedoria do mestre foi lenta, acelerando definitivamente no internato.

O conselho do mestre acompanhou-se de ponderações que procuro aqui registrar uma fiel reprodução: Tatuem no cérebro o que vou lhes dizer, guardem no cofre mental o tesouro da ética- é um investimento duradouro-, estruturem uma vigilância vivaz, ampliem a capacidade de vivenciar sentimentos, estejam sensíveis a novas formas, usufruam das revelações que brotam sem parar dos atendimentos frequentando bons serviços onde possam receber apoio e orientação dos mais experientes como uma corrente intergerações e façam de tudo isto um guia para lidar com as apreensões nas condutas porque a doença é um tipo de violência para o paciente e o médico precisa percebê-la e revertê-la não somente com potência clínica que além do mais faz bem à autoestima e ao amadurecimento, como também com comprometimento humano onde a comunicação vale muito para jamais esquecer que qualquer paciente é um consciente e um racional e não um autômato animado. Persiste atualaplicável como uma luva para os profissionais da saúde que constituem comunidades de interpretação participativas, complexas, rigorosas, mas sensíveis a certas aberturas recomendadas tanto pela longa tradição, como pela modernidade.

Paulatinamente, fui percebendo que a lição de orientação e controle do olho clínico e ético dilatado, uma integração qual o único olho central  de  um ciclope, comportava também valer-se da conjunção como um amortecedor dos atritos causados pela transição da inocência da boa intenção na beira do leito para as adequações às responsabilidades de um profissionalismo que envolve competência técnica, interesse além dos puramente pessoais direcionado a valores humanos e autorregulação do exercício profissional.

Bioamigo, posso dizer que os não consentimentos do paciente que recebi, embora poucos, sempre mexeram com a minha forte intenção de nunca abdicar de insistências respeitosas – paternalismo brando- na beira do leito fundamentadas em percepções compreensivas de causas que levavam o paciente a manifestar contraposições. Balançou mas não eliminou. Indiferença a reações do paciente que o profissional da saúde entenda prejudiciais precisa ter um efeito teflon na beira do leito.

A Bioética da Beira do leito ao associar ética e consentimento esclarecido do paciente adverte que o viés essencialmente técnico numa comunicação ao paciente arrisca-se a fazer com que as palavras não se tornem fios condutores para a absorção e o impacto pretendidos sobre o amplo espectro do mal – doença, adversidades terapêuticas- e do bem – qualidade de vida, prognóstico de sobrevida-, desintegração que resulta em desinteresse dialógico.

Beira do leito sem diálogo é sempre deficiente. Checkup pode ter uma letra final muda, podemos auscultar um ruído surdo no tórax, uma pesquisa pode admitir um método duplo cego, mas a beira do leito jamais pode ser concebida muda, surda ou mesmo cega.

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