PUBLICAÇÕES DESDE 2014

1027- Ética pratica-se (Parte 6)

Bioamigo, neste contexto, proponho mentalizarmos uma situação que estimula o desenvolvimento de reflexões sobre a ética na beira do leito.

De repente, num dado momento da sua formação, extensão ou atualização, o profissional da saúde passa a conhecer. Constitui-se um novo aprendizado e ele incorpora a informação/compreensão/aplicação ao profissionalismo. De alguma forma o conteúdo agora disponível tende a ser manejado pelo profissional da saúde como um truísmo, algo que se mostra evidente, que provoca uma sensação de óbvio, e, assim desaparece o fato de que até ontem ele desconhecia o conhecimento – e era, portanto, leigo na competência.  

É situação que admite como pano de fundo o valor da conscientização pelo profissional da saúde que aplica a um leigo um conhecimento de já foi desconhecedor ou mau conhecedor. Por isso, e além de tudo, reforça o imperativo que o viés profissional da informação não deve impor uma desconsideração ao respeito à pessoa do paciente.  Em outras palavras, a bagagem moral alinhada ao caráter da pessoa do profissional da saúde independente da influência profissional não pode deixar de se fazer representar com autenticidade e grandeza em meio a determinações da profissão.

Dentro da metáfora de não avaliar o comportamento de uma pessoa sem antes caminhar com seus sapatos por um trecho, pensar como o outro, o compartilhamento de um conhecimento quer de aplicação tecnocientífica, quer de atitude tem grande chance de provocar uma resposta interpretativa pelo paciente distinta da do profissional da saúde que tem que estar atento a mais de 100 artigos do Código de Ética Médica vigente. Ademais, carrega a possibilidade de uma superposição à que ocorreria enquanto ele desconhecia ou mal conhecia. Por isso, o valor da tolerância sobre o sentido de dever que resulta motivada pela memória acerca do pré-profissional (antes do ingresso na faculdade) ou do paraprofissional(na vida em geral) que se pretende entre distintas comunidades de interpretação.

A posse do conhecimento pelo profissional da saúde faz com que agora não mais leigo no mesmo possa orientar um leigo – o paciente- sobre possibilidades e condutas com a autoridade dada pelo conhecimento. Ajustes, agregações e supressões ao (a)caso necessários ao uso do novo conhecimento formatam um saber e que precisa ser comunicado.

Sem dúvida, o conhecimento é fator de beneficência/não maleficência, o profissional existe para esta missão diferenciadora, mas um cientificismo ou um tecnicismo não devem provocar uma cleptocracia na beira do leito, o roubo da mente do paciente, numa presunção do profissional da saúde que conhece por inteiro o que é melhor para o paciente. A memória do profissional da saúde contém flashes sobre modos de apreciação que indicam que justificativas “indevidas” do paciente são semelhantes às de si próprio numa fase leiga. Precisa, evidentemente, haver a conscientização.

O processo de comunicação determina uma interação entre emissor, linguagem e receptor que requer muito mais do receptor do que conhecimentos semânticos do idioma. O paciente precisa executar uma construção associada a decodificações exigentes de inferências sociocognitivas, sem as quais a participação ativa perde a legitimidade. A emissão do saber estabelece um poder e a recepção que absorve o conhecimento também faz-se um poder. Assim, a beira do leito convive com sentidos de saber-poder.

COMPARTILHE JÁ

Compartilhar no Facebook
Compartilhar no Twitter
Compartilhar no LinkedIn
Compartilhar no Telegram
Compartilhar no WhatsApp
Compartilhar no E-mail

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POSTS SIMILARES