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1005- Barreiras (Parte 5)

Não infrequente, podemos constatar certo receio do profissional da saúde que um apelo ao auxílio da Bioética no decorrer de um conflito provocaria indesejadas apreciações sobre suas pretensões. A dificuldade em tolerar a contraposição do caso ampliada para a de se submeter a uma imparcialidade sistematizada. Talvez até fujam conscientemente e amarras ao tecnicismo e ao cientificismo são matérias-primas para tais reações em que a rigidez de entendimento sobre a beneficência na aplicação das ciências da saúde contrapõe-se ao direito à ampla interlocução sustentado no princípio da autonomia. A sensibilidade exagerada a críticas prejudica enxergar a realidade circunstancial em sua plenitude, o que coloca o narcisismo e seus efeitos ressonantes na beira do leito. A rotura ao status quo fica prejudicada

Há um lado reverso. Muitos, frente aos impasses, direcionam suas preocupações pessoais para a Bioética pretendendo dela um salvo-conduto para utilizar caso haja futuras reclamações sobre entendimentos de atuações como imprudência ou negligência, a reboque de manifestações de não consentimento pelo paciente às recomendações apresentadas. Graus de hipocondria moral- preocupação com possível culpa- associados à insegurança ética em busca de um porto seguro da moralidade. Ouso dizer que é motivo majoritário na solicitação de pareceres a Comitês de Bioética. Exige muita sensibilidade nas respostas, especialmente sobre eventuais contras das intenções.

Uma maneira de  dar manutenção aos pensamentos perambulantes sobre as realidades da (não)capilarização é relacionar os comportamentos ao conceito de poder. Invocando Hanna Arendt (1906-1975), podemos considerar a relação entre poder e sensação de violência como um cenário aplicável. Aliás, presente nas origens da Bioética.

A Bioética da beira do leito entende que a aplicação dos três aspectos mencionados- o próprio entendimento, o receio de ser contraposto e o uso defensivo- ao cotidiano da beira do leito tem como denominador comum uma relação de mando e de obediência, onde pautam imprevisibilidades, frustrações e inseguranças.

Materializa-se uma verdadeira gangorra onde pesos diferentes são aplicados aos lados de acordo com a personalidade e as conjecturas de momento. Nesta diversificação individualizada, ora a Bioética manifesta-se como poder bastante pelo que o profissional da saúde possui, ora a Bioética é vista como um poder extrínseco a ser rejeitado ou acolhido.
A militância em Bioética organizada obriga-se a uma metafórica catequese. Pela força persuasiva do exagero, o pensamento de Arthur Schopenhauer (1788 – 1860) faz-se um lema: Toda verdade passa por três estágios: primeiro é ridicularizada, depois é violentamente oposta e por fim é aceita como auto evidente. 
A Bioética da Beira do leito preconiza que a expansão dialógica é essencial para a capilarização da Bioética sob coordenação de um Comitê de Bioética, mas a sua construção exige um passo-a-passo de motivações institucionais que incluem o conhecimento dos interesses habituais em jogo, a consecução de resultados bem-vindos e a confiança indutora da fidelização. São ingredientes para ares de Bioética permanentes na atmosfera institucional.

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