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840- Vir(Ati)tudes- Parte 1

 

OctetoA beira do leito  está cercada de fake news, modernidade líquida e pós-verdade. Notícias falsas, relações sociais enfraquecidas e fugazes e opiniões menos centradas em fatos objetivos e mais em emoções e crenças tendem a tornar mais frágil e superficial a conexão médico-paciente.IndiceSponville

Os profissionais da saúde em nome da meta de excelência tradicional precisam preservar um nível de solidez e profundidade que lhes exige reconhecerem-se agentes morais, resguardarem os valores das tradições profissionais e manifestarem-se com ética. É natural na maioria, mas a aplicação tem requisitado reforço crescente da conscientizaçãodo valor.

A obediência do profissional da saúde à própria vontade costuma expressar a força interior dominante do profissionalismo. Normas, regras e códigos são necessários pois ninguém é um clone da idealização de perfeição profissional e a organização da sociedade tem peculiaridades e constantes mudanças provocando choques de várias naturezas. Nenhuma texto  modelador, entretanto, supera o desejo.

Meus 52 anos de médico atestam o apropriado da metáfora do rio, persiste caudaloso porque renova suas águas. A moral é a nascente  de água doce e a ética é o direcionamento universal com margens contensoras para o oceano de água salgada. Por isso, todos os dias, ininterruptamente temos de reforçar o solilóquio: Estou sendo ético, com boas perspectivas de manutenção e sendo assim reconhecido?

Praticamos ética profissional no automático, não dependemos de sucessivas autoavaliações de conformidade com  definições intelectualizadas. Basta-nos o hábito de atuar de certa maneira e não de outra. A construção e utilização do habitude reúne representações da tríade formada por deontologia, virtudes e utilitarismo.

A Bioética da Beira do leito entende que são plataformas complementares. Suponhamos a situação de médico e paciente ao final de um processo de tomada de decisão. O paciente exerce o direito à autonomia e seleciona a opção terapêutica com alguns ajustes que mais lhe configura a ideia de bem-estar. Virtude e deontologia comungam a prudência que instrumentaliza o médico a repassar a decisão do paciente pelos prós da beneficência e contras da não maleficência e, tudo acertado, tem-se determinado o método consentido. Após a aplicação, o saldo líquido do bem -estar almejado deduzidos eventuais males ocorridos refere-se ao utilitarismo.

A condução com destreza faz lembrar da lenda de Guilherme Tell do século XIV com suas habilidades de arqueiro eternizadas em ter acertado desde uma distância de 50 metrosTell11 a flecha no meio de uma maçã sobre a cabeça do próprio filho e que teve como desdobramento o bem-estar de um povo. Assim, a condução ética prudente e zelosa como indicada no artigo 1 do Código de Ética Médica vigente  pode ser subdividida em quatro fases: retesamento do arco no decorrer do processo decisório; tempo para o consentimento pelo paciente; liberação da flecha; qualificação do obtido em relação ao almejado.

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