Talvez! Um advérbio de dúvida! Um advérbio residente na beira do leito. Não sabia até há pouco como se diz talvez em grego, mas, graças às facilidades da da internet, já posso compartilhar com o bioamigo que é ίσως (isos). Assim faço porque Hipócrates (460ac-370ac) deve ter pensado nele ao manifestar suas dúvidas (se eu cumprir… caso contrário…).
A certeza do talvez é histórica na comunicação médico-paciente. O conhecimento das causas dos talvezes da medicina ao longo do tempo tornou-se essencial para o desenvolvimento da ética médica. De fato, as indeterminações de teoria e prática da medicina geram opções de aplicação profissional e de recepção leiga, vale dizer, promovem incertezas subjetivas, etiopatogenia de talvezes, nos processos de busca pelas mais adequadas utilidades diagnósticas, terapêuticas e preventivas.
O talvez aplica-se tanto antes da tomada de decisão quanto após, quando, então, ainda sem os efeitos evolutivos da decisão, persistem dúvidas se houve um bom direcionamento. Na fase pré-evolução pode ocorrer o arrependimento – é mais habitual, entretanto, na fase pós-evolução- que motiva a qualificação de revogável ao consentimento do paciente sustentada pela Bioética.
Há estudos que indicam que, de maneira geral, o arrependimento é mais provável após tomadas de decisão com menor grau de convicção – a figura da dúvida martelando a cabeça-, contudo, na beira do leito, o arrependimento pode ser a substituição de uma postura de certeza pré-tomada de decisão por outra pós-tomada de decisão a reboque de um novo fato, geralmente frustrante.
Porque sentir-se responsável pela tomada de decisão influencia as dúvidas e arrependimentos, a tática de pacientes do doutor o que senhor decidir está bom para mim expressa uma reação de confiança que faz o paciente dispensar o direito a vaivéns no processo de tomada de decisão.
Há talvezes fortes e fracos em relação inversa com decisões fracas e fortes. A decisão fraca mantém um talvez de plantão 24/7 que faz oscilar entre a manutenção e a revogação (arrependimento), enquanto que a decisão forte em princípio mais longe de uma dúvida pós-decisão pode vir a ser contestada por outra decisão forte causada por um fato novo, o que significa que o talvez nunca se afasta da beira do leito.
A lição é clara: a antecipação pelo médico de causas de dúvidas/arrependimentos do paciente, experiência-dependente, contribui para fortalecer o pensar/sentir/reagir decisório do paciente, o que está inserido no significado da promoção do esclarecimento para o consentimento.
Assim, a Bioética da Beira do leito recomenda a descrição na medida ajustada às circunstâncias do que acontecerá ou poderá acontecer como fator redutor de conflitos inter e intra-pessoais na conexão médico-paciente, vale dizer, supressora de talvezes.
Uma resposta
O receio dos talvezes fortes ou fracos podem estimular os paternalismos em seus mais variados graus?
O paternalismo brando, por exemplo, não se tornaria autêntico, intrínseco na formação do profissional médico?