Um clímax! Atenção máxima! Uma situação de enigma-revelação. O atendimento da necessidade de saúde atinge um dos pontos culminantes da razão de ser. Determinará ordenações e referenciais, ocasionará desdobramentos por movimentação de conhecimentos e de desconhecimentos, muitas vezes num embaçamento de fronteiras. Uma divulgação formal e uma educação informal sobre o diagnóstico e razões de conduta nos domínios da conexão médico-paciente impactantes no cenário do ecossistema da beira do leito.
O médico já conhece o que vai dizer e o paciente ainda desconhece, pode até desconfiar ou almejar. O paciente conhece seus desejos, objetivos, preferências e valores e o médico ainda os desconhece, pode até supor. Uma naturalidade profissional versus uma disponibilização de força interior pelo paciente.
É momento estratégico onde a homotermia do ser humano cede lugar para uma pecilotermia atitudinal, frieza e calor pessoal e profissional manifestam-se desde turbilhões de hipóteses e pensamentos que agora ganham limites.
O sucesso da etapa a seguir estará intimamente ligado ao modo como esta etapa precedente será compreendida, subsidiará confiança e, principalmente, introjetará motivação.
A Bioética da Beira do leito valoriza sobremaneira a chegada desta hora ética e tensa em que o médico comunica a “verdade” para o paciente. A rotina profissional costuma banalizá-la, mas inserida num contexto histórico, temos que admiti-la misteriosa, mágica e memorável, onde a queixa principal metamorfoseia-se em diagnóstico e terapêutica. Inicia-se uma conversação esclarecedora, uma conscientização sobre vários aspectos que inclui o objetivo direcionado ao consentimento sobre estratégias.
O paciente apreende fragmentos de medicina e o profissional da saúde aprende sobre aspectos da personalidade do paciente. A permuta entre tecnociência e humanismo que qualifica a conexão médico-paciente. Pedaços de Devo/Posso/Quero colocados no liquificador da ética agora colocado em funcionamento. O ideal de um homogeneizado!
Até então, presume-se que a prudência tenha dominado as escolhas; após o consentimento do paciente, pretende-se o domínio do zelo na aplicação do consentido. A conceituação da Bioética da Beira do leito que a prudência refere-se ao processo de tomada de decisão e o zelo ao compromisso com o autorizado pelo paciente implica no reconhecimento que dados e fatos foram pesquisados e verdades foram peneiradas.
Desta forma, o que resultou rotulado como beneficência sob a óptica da prudência e tornou-se parte do agora recomendado precisa ganhar a comprovação de benefício individualizado com a ajuda do comportamento zeloso, ou seja, a utilidade conceitual virar útil naquela prática. Um atestado de verdade factual pela reciprocidade entre método e paciente, uma dinâmica onde o médico alinha-se ao verbo assistir tanto no transitivo direto do empenho (ativo) quanto no transitivo indireto da observação (passiva).