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40-Sou médico. Estou satisfeito?

smileVocê, bioamigo, está satisfeito com o seu trabalho profissional? Como você avalia a atualidade da realização dos seus valores, o quanto sente de bem-estar exercendo a Medicina?  Certamente, por uma combinação de acontecimentos e de circunstâncias, há dias mais alegres e há dias mais desconfortáveis, com mais ou menos interferência na sua vida pessoal, mas como está no cômputo geral?

A satisfação profissional é um estado subjetivo, permanentemente mutável por várias inter-relações que incluem o trabalho propriamente dito, como condições e ambiente  e  os circunstantes, como colegas e superiores hierárquicos.

Recentemente, a American Medical Association preocupou-se em identificar determinantes compartilhados pela maioria dos médicos com alta influência na satisfação profissional. http://www.rand.org/content/dam/rand/pubs/research_reports/RR400/RR439/RAND_RR439.pdf

Relaciono a seguir algumas conclusões:

1- A percepção de que os cuidados prestados são de alta qualidade é ponto positivo relevante para a satisfação pessoal do médico. Obstáculos incluem má qualidade de pessoas ou de infra-estrutura ou restrições ao livre exercício. Uma implicação é a necessidade de facilidades para reciclagens e aprendizado de inovações.
2- O uso do prontuário eletrônico, embora entendido como um avanço – somente 20%  desejariam voltar ao papel-  apresenta deficiências de tecnologia que são fonte de insatisfação. Situações onde ele não se mostra “amigável” na intensidade pretendida, onde provoca gasto excessivo de tempo, onde determina uma menor qualidade da informação e onde prejudica um relacionamento mais direto com o paciente são causas de insatisfação do médico. Médicos mais velhos têm mais dificuldades com padronizações da informação. Revisões periódicas para conciliar a visão do médico prescritor e dos tecnólogos são essenciais.
3- Há médicos que experimentam satisfação em exercer algum tipo de liderança no seu ambiente de trabalho e há médicos que preferem independência de atuação e, inclusive, não se adaptam em ambientes com forte supervisão.
4- O comportamento da liderança é essencial para a satisfação profissional dos subordinados, especialmente, quando há alinhamento de valores, reconhecimento de expertise e certa autonomia perante a interface entre o clássico e a inovação.
5- A quantidade de atendimentos é fator de impacto no grau de satisfação. O excessivo, especialmente se entendido como mal remunerado, e a carência de pacientes- para o cirurgião, por exemplo- são fatores de insatisfação.
6- A sobrecarga de regras e de normas  impacta na satisfação, pois  interfere na percepção que a prestação de serviço se faz com alta qualidade. A redução das mesmas contribui para um ambiente mais cooperativo com foco no cuidado com o paciente.
7- A remuneração tem importância relativa na satisfação. Reduções adquirem mais impacto quando são entendidas como desalinhadas de decisões benéficas para o cuidado do paciente. Há o entendimento que mudanças de interesses em especialidades e sub-especialidades provocam oscilações de remuneração.
Há muitos aspectos da satisfação do médico que se assemelham a de outras atividades  profissionais, todavia, é o prontuário eletrônico que traz mais especificidade, pois  a insatisfação com ele  associa-se com uma visão de mau atendimento do paciente, que, por sua vez, interfere no grau de satisfação profissional.

 

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COMENTÁRIOS

2 respostas

  1. Satisfação com a profissão médica é uma necessidade para que exista um trabalho de boa qualidade com o paciente. Nada pior que um profissional insatisfeito na nossa área pois levará a uma ação direta de um cuidado de baixo nível com o paciente mesmo que não intencional. Achei interessante o peso que foi dado ao uso do prontuário eletrônico. Questiono esse mal estar gerado por ele no atendimento médico. Digo isso devido ao uso habitual do prontuário eletrônico há mais de 15 anos. Não sei mais trabalhar sem ele. Tudo fica muito melhor organizado e como digitar vai se tornando natural ao longo dos anos, enquanto a anamnese flui, os dedos agem no teclado. Ocorre um excelente aproveitamento do tempo e uma aquisição precisa das informações, sem o risco de não reconhecermos o que escrevemos tempos após, pois os caracteres são muito claros. O que provavelmente está ocorrendo é uma imposição de modelos institucionais sem uma adequação a realidade do dia a dia do profissional, levando a uma perda de tempo por um excessivo número de campos obrigatórios a serem preenchidos, quando a maior finalidade seria agilizar a guarda da aquisição dos dados do paciente que o profissional julgue adequado para a continuidade do trabalho, seja com ele ou com outro profissional que vá tratar um dia o paciente.

  2. Valeria, a sua apreciação está correta. A imposição de modelos institucionais conflita com os estilos individuais. Uso no consultório o prontuário eletrônico há anos, mas ele está ajustado ao meu jeito.

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