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122-Pesquisa clínica é fator de prudência e de zelo na assistência ao paciente

VoluntáriosNa assistência é paciente, na pesquisa clínica é voluntário. Mesma pessoa tem o direito aos cuidados com a saúde, mas não tem a obrigação de doar-se para a obtenção de informações sobre como melhor  atender às necessidades de saúde.

A prática da Medicina, conforme a Bioética, depende da interdependência do ser humano e que se beneficia da solidariedade que vê razão numa exigência científica para o benefício e para a segurança na aplicação de métodos para influência na história natural das doenças.

O voluntário da pesquisa é um solidário, na medida em que se sente pertencente a um todo (“sólido”), por mais que a motivação de participação sustente-se pelo que acontece com a sua pessoa.

Assim, pela convergência de proveitos, organiza-se a casuística de uma pesquisa clínica, constituindo uma comunidade de interesse. Interesse para os partícipes, interesse para a Humanidade.

Pesquisador e pesquisado unem-se pela vontade de preencher faltas e desempenham-se, cada um com o que possui, para qualificar e quantificar o objetivo em questão. Eles vinculam-se à Ética em pesquisa, cumprindo, não somente, disciplina no uso do protocolo de estudo aprovado por Comités vigilantes da vulnerabilidade do ser humano, como também, salvaguardas para o abuso.

O “válido para a assistência” sugerido pelos resultados da Pesquisa clínica transita por outros níveis de legitimação, como o Corpo Editorial de periódicos, as Sociedades de especialidade e suas diretrizes e as Agências governamentais de regulação e vigilância sanitária.

Este processo translacional desde o ambiente de pesquisa até a beira do leito, desejo da chamada Medicina Baseada em Evidências, resulta organizado em níveis de dimensão de efeito- utilidade, tendência à utilidade, tendência à inutilidade- com a probabilidade de produzir estes resultados de fato, em função do valor da Pesquisa clínica.

Assim é que  muitos cuidados assistenciais ficam “prontos”, validados  e à disposição para satisfazer as necessidades de saúde do paciente. Para que se constituam em métodos com real esperança de sucesso, todavia, eles devem ser aplicados na conformidade dos critérios das boas práticas.

A aplicação do método pesquisado deve respeitar pré-definições de indicação, de execução e de acompanhamento evolutivo. Neste compasso, o vínculo com a conclusão da Pesquisa clínica vai sendo ordenado pelo acúmulo da experiência da beira do leito, ajustes “em serviço” provocados por uma curva de aprendizado  em direção ao domínio da técnica.

A memória sobre o método refina-se no cotidiano e dá distinção à expertise. Pela memória,  intenção, ação e comunicação qualificam a prestação do serviço pelo médico ao paciente. Não há espaço para esquecimentos, ou por falta de prática ou por descuido. O médico é tradicionalmente associado ao olho clínico, ao olhar de relance, ao olho no olho, por isso, “fechar os olhos” cabe tão somente para se concentrar na memória dos conhecimentos e das habilidades que alimenta a tríade acima referida.   

A Pesquisa clínica, assim, deve ser vista como um movimento que influencia continuadamente o respeito a dois pilares da Ética: prudência e zelo.  A Pesquisa clínica é ponto de partida para atestar que a novidade é meio  que pode ser manejado pelo médico prudente e zeloso, portanto é cuidado ético, assim reduzindo o tamanho  da indelével etiqueta de incerteza, risco e acaso que a Medicina requer em qualquer circunstância.  A Pesquisa clínica, portanto, contribui para dar eticidade aos percalços que são necessários correr -ou a serem evitados- para a obtenção do benefício.

A Pesquisa clínica  cogita do futuro  no presente da necessidade.  A Medicina é irriquieta e não lhe basta saber qual é a história natural da doença ou como ela tem respondido aos métodos existentes. É preciso  desejar  a não-inferioridade/superioridade de novas maneiras de influenciar o futuro.  O que soa uma obviedade nos tempos atuais, a consciência que inovações obrigam-se, para que possam preencher, de fato, uma lacuna da Medicina, à comprovação do quanto é útil, eficaz e segura, é historicamente recente. É conquista do século XX.

Um vez entendido que a inovação cumpre uma adequação de utilidade, eficácia e segurança em determinadas condições clínicas, a confirmação de método prudente (perspectiva de bom futuro) para a individualidade do caso em questão, torna-se plataforma para subsequente zelo.  O próximo passo é a aplicação, desde que consentida pelo paciente.

A significação do zelo costuma ser melhor compreendida pelo que representa o antônimo negligência: não dar a chance para o decidido a ser aplicado  resultar no sucesso prudentemente avaliado. Uma meta de 80% de probabilidade de reversão da circunstância clínica com 4% de adversidade, por exemplo, relacionada à aplicação do método, fica comprometida por expressões de negligência por não fazer ou malfazer. Em consequência, a realidade de 0% de benefício e de 100% de adversidade, não pelo risco, mas pelo desleixo, realiza-se como um novo presente inadmissível perante a prudência tida na tomada de decisão  a respeito da aplicação, objetivando melhor futuro do paciente.

A Bioética da Beira do leito endossa que a Pesquisa clínica é moralmente necessária e que a boa-fé daqueles que a executam é virtude imprescindível para que haja a participação de um ser humano como voluntário de pesquisa. Os níveis de prudência e de zelo na assistência elevam-se  no valor da verdade das evidências resultantes de Pesquisa clínica.

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