Verifico que há 21 anos falecia o Prof. Zerbini- 23 de outubro de 1993. Veio a indagação: Zerbini foi um homem-momento ou um homem-época? A sua projeção deveu-se a ter feito históricos transplantes cardíacos ou estes foram estações movimentadas numa longa jornada de muitos outros movimentos de mérito reconhecidos pelos pares? Fico com a última hipótese.
Revejo os conceitos conforme expostos pelo filósofo estadunidense Sidney Hook (1902-1989) no seu livro o Herói na História (Zahar Editores, 1960). Concluo que Euriclides de Jesus Zerbini batalhou para o progresso da cirurgia cardiovascular brasileira, contribuiu para a sua expansão pelo Brasil e associou fortemente o seu nome a uma identidade da especialidade. Então, foi um homem-época, ou, melhor dito, foi um médico-época.
Reforça-me a apreciação a lembrança da convivência que tive com ele por cerca de uma década, inicialmente como responsável pelo cuidado clínico de pacientes operados no prédio central do Hospital das Clínicas e, subsequentemente, no InCor, até a sua aposentadoria em 1982.
Segundo Hook, o homem-época é um homem-momento que não é grande somente pelo que faz ou fez, mas também pelo que ele é. Não basta estar ou ter estado no lugar certo no momento certo, é essencial a personalidade, o talento, a expertise. O homem-época não se aproveita simplesmente de uma circunstância, ele ajuda a criá-la. E mais, é um mortal que constrói a sua eternidade. No caso, a Fundação Zerbini a materializa, não importa o quanto o marcante da pessoa e a memória das realizações pioneiras percam luminosidade nas novas gerações.
Denodo para vencer obstáculos, objetivos definidos, aplicação da sabedoria, visão sistêmica, liderança de um grupo competente e construção de um patrimônio de bem coletivo são atributos de um médico-época.
Há uma riqueza de médicos-época no Brasil. Álvaro de Lemos Torres (1884-1942), Oswaldo Gonçalves Cruz (1872-1917), Carlos Justiniano Ribeiro Chagas (1879-1934), Luiz Vènere Décourt (1911-2007) são alguns exemplos conhecidos. Zerbini teve um aspecto positivo a mais, passou o bastão acadêmico para Adib Domingos Jatene, nascido em 1929, uma sucessão por outro professor altamente merecedor do título de médico-época.