PUBLICAÇÕES DESDE 2014

CBio2-Ética Médica e o Facebook. Um decálogo sobre erros que o médico não pode cometer

ernesto-lippmannDr. Ernesto Lippmann
Advogado

  

               Hoje em dia quase 1 bilhão de pessoas participam do Facebook. Você já parou para se perguntar por que tudo de bom que ele oferece é de graça?  Simplesmente, porque o Face compartilha suas informações com seus anunciantes, e passa longe de qualquer noção de privacidade.

É muito difícil apagar um comentário, pois mesmo que você o faça, ele já pode ter sido compartilhado e se espalhado como plumas ao vento.

E, basta dar uma volta pelo Face para perceber que muitos erros são cometidos pelos médicos, na hora de divulgar sua imagem virtual.

O mais básico é: ao usar uma rede social, pense se o que você está postando é algo que diria em público, e se você não se importaria se todos tivessem ciência de seus comentários. Se você tem certeza, que não, aproveite os benefícios da conexão. Na dúvida, precaução, e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.

Além disso, reflita: até que ponto as informações que você posta sobre sua vida privada pode ameaçar a confiança mútua entre você e seu paciente.  Será que comentários e fotos postados on-line podem ser mal interpretados fora do seu contexto original?

Olhe para o Face de seus colegas.  Se você for crítico vai ver que muitas vezes, de maneira inadvertida, a ética e a segurança são deixadas de lado pelo médico nas redes sociais, o que tende a ser ainda mais complicado quando elas se transformam numa nova forma de relação entre paciente e médico.

Ainda mais, o face vem sendo considerado a cada dia mais como prova válida nos Tribunais. Há centenas de casos de divórcio e de reclamações trabalhistas onde os Juízes consideraram as provas disponíveis nas redes sociais.         Pesquisa da OAB americana mostra que 81% dos divórcios se devem a bisbilhotagens em redes sociais, celulares, e emails!

Não nos surpreenderemos quando um médico postar sobre um “dia de fúria”, onde tudo deu errado, no mesmo dia em que faz um procedimento que não dá certo. Se o paciente “vítima” conseguir acesso a sua rede, vai ser fácil provar para o Juiz que o cirurgião não tinha condições emocionais de fazer algo tão delicado quanto uma cirurgia, e que o dano ao paciente teve conexão com o estado emocional do médico.

Acho que consegui convencer voce a repensar sua postura no Face, certo?

Então, anote 10 dicas do que não é aconselhável fazer no Face:

1.            Aceitar pacientes como amigos. Não há sentido em deixar o paciente saber da sua vida pessoal. Será que realmente interessa a eles saber seu status social e amoroso? A mesma dica vale para colegas com quem não tem intimidade. Se for inevitável, coloque num grupo de configurações restritas.

2.            Solicitar que um paciente seja seu amigo. Digamos  que você seja um psiquiatra. Será que esta solicitação não fere a ética, especialmente o artigo 40 do Código de Ética Médica?  http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=20660:codigo-de-etica-medica-res-19312009-capitulo-v-relacao-com-pacientes-e-familiares&catid=9:codigo-de-etica-medica-atual&Itemid=122

3.            Colocar seus problemas emocionais nas redes sociais. Tudo bem, não há quem não sofreu por isto, mas será que vale a pena que todos conheçam seus tapas e beijos, pelos quais você mesmo se sentiu arrependido e emocionalmente instável?

4.            Comentar suas baladas. Tudo bem, ninguém é de ferro, mas de repente algum “amigo” do Hospital reproduz aquela sua foto de ressaca … e a performance da dancinha “ai que delícia” do Teló.  Será que isto não vai depor contra sua imagem profissional?

5.            Criticar chefes, colegas, e outros profissionais da Saúde. Nada se espalha tanto e pode chegar justo em quem foi o alvo da crítica. E,  se não bastasse isto, lembre-se que é proibido pelo artigo XVII dos princípios fundamentais do Código de Ética Médica.

http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=20656:codigo-de-etica-medica-res-19312009-capitulo-i-principios-fundamentais&catid=9:codigo-de-etica-medica-atual&Itemid=122

6.            Evite polemicas sobre assuntos delicados como política, religião, e orientação sexual. Você nunca sabe a verdade sobre seus amigos virtuais.

7.            Postar fotos de pacientes  ou com pacientes, mesmo com o consentimento deles.  Isto é vedado pelo artigo 75 do Código de Ética Médica. http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=20664:capitulo-ix-sigilo-profissional&catid=9:codigo-de-etica-medica-atual&Itemid=122 Tampouco divulgue fotos suas no Hospital, especialmente aquelas “engraçadinhas”, pois isto pode até mesmo gerar uma demissão por justa causa.

8.            Divulgar informações profissionais na rede, como fotos,  endereço, ou convênios atendidos na clinica, ou seu telefone que pois isto é expressamente proibido pela Resolução 1974/2011 do Conselho Federal de Medicina.   http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/2011/1974_2011.htm

9.            Você é um médico, não é um modelo!  Assim, se você não tem pretensões a ser o próximo big brother, melhor não se apresentar com fotos de biquíni ou de sunga no perfil pessoal. Prefira fotos sóbrias, atuais e com trajes compatíveis com a exposição pública.

10           Sempre faça uma revisão nas suas configurações de privacidade. Mantenha sua senha secreta. Use o Google alerts para ver o que foi dito sobre você, para que seja possível corrigir rapidamente uma informação falsa, ou que repercuta mal.

O Face é bom para rever amigos, e reencontrar colegas. Contudo,  pode ser também  um rápido destruídor de bens  preciosos da vida: amigos, amores, reputação e carreira.

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