Já fazem séculos em que o médico acompanhava o paciente, anotava sintomas e sinais evolutivos, aguardava o óbito, procedia à necropsia e fazia uma correlação anatomoclínica. Doenças foram assim identificadas ao longo do tempo. O conhecimento resultante tornou-se e útil para o diagnóstico do “próximo paciente”, porém nenhuma terapêutica trazia benefício prático para o avanço da Patologia. Entretanto, a contribuição foi sólida para o desenvolvimento qualificado e ininterrupto da Medicina.
O século XX trouxe tratamento e prevenção. promovendo real utilidade ao diagnóstico e estímulo a sua expansão tecnológica. Permitiu-se viabilizar o pensamento ideal da evitação da manifestação de doença pela vacina e pelo controle dos chamados fatores de risco. A iatrogenia elevou-se, pois os simbólicos comprimidos e bisturis não podem deixar de atingir alvos secundários àquele primário que os mobiliza.
O século XXI começa com um olhar cativante para o manejo dos genes a fim de preencher lacunas de atuação sobre a evitação de chamadas doenças genéticas. Nem propriamente tratamento que elimina ou controla a doença, nem vacina que defende mas não faz desaparecer a causa. Menos coletivo e mais pessoal. É a Medicina personalizada pretendendo dar retoques no projeto humano, nas suas origens, vale dizer na concepção.
Uma atuação alvissareira é a Fertilização in vivo com três progenitores. Sim, um mais. Imaginemos um casal, marido e esposa, que deseja ter um filho sem o risco de uma doença causada por uma anormalidade genética da mãe. Proceder-se-ia, inicialmente, à transferência do material genético nuclear do óvulo da esposa com a mitocôndria mutante para o óvulo de uma outra mulher saudável, a ser. subsequentemente fertilizado pelo espermatozoide do marido.
Artigo recente do Nature http://www.nature.com/news/uk-moves-closer-to-allowing-three-parent-babies-1.21067 mostra que o sucesso é possível, todavia “restos” do que se pretende eliminar podem persistir e prejudicar o resultado pretendido.
De qualquer maneira, duas décadas de pesquisas já permitem afirmar que o método de transferência de genoma visando o nascimento de um bebê isento de uma determinada doença está pronto para testes clínicos, sob parcimônia. A expansão do número de casos e a observação ao longo de um tempo maturador são fundamentais para a análise de benefício e de segurança desta inovação “divina”.
De volta ao passado, mas com a variante que o médico não anota sobre a vida e aguarda o seu término. Agora ele anota sobre antes da vida e espera que ela comece para obter suas correlações. Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, Antoine Laurent de Lavoisier (1743-1794) sempre transformado, por isso sempre presente. Lavoisier é o Pai da Química moderna e pode-se conjecturar que muitos filhos nasceram com mixagens de genes criativos.