Você entra num restaurante, num elevador, numa sala de aeroporto. O que vê em comum? Pessoas centralmente atentas ao smartphone em suas mãos e perifericamente vigilante ao ambiente que inclui até um seu acompanhante.
As cenas lhe diz que há dois antônimos em curso simultâneo com níveis de intensidade muito semelhantes. Há aparente indiferença com o redor e empatia com o longínquo. Verifica-se, por exemplo, um desinteresse em relação ao casal que tenta fazer o bebê parar de chorar enquanto se faz um clique para curtir – seja lá qual for o sentido real do emprego deste verbo da moda- um post que declara “para os amigos” que o bebê não tem deixado dormir. Sim, porque com certeza muitos amigos autoconvidados e aceitos em rede social não seriam reconhecidos “ao vivo”.
Estudiosos nos ensinam que há 3 níveis no processo de expressar empatia: o cognitivo que faz perceber o que o outro está sentindo, o afetivo que provoca o compartilhamento e o compassivo que motiva uma atuação reativa http://link.springer.com/article/10.1007/s11019-016-9694-5/fulltext.html
Um clique de curtir numa rede social pode ser absolutamente automático – algo como “saiba que eu li”- como reforço da “amizade”. Caso ele preencha a satisfação com os componentes cognitivo e afetivo da empatia, não costuma ter eficiência para uma reação compassiva.
Não é incomum o paciente queixar-se que o médico manifestou mais indiferença do que empatia com as suas amplas necessidades de cuidados com a saúde. Subentenderia que a força motivacional para tomar atitudes que sejam recebidas como “boas” não contou com a energia que deveria ter fluido na fase cognitiva e/ou de compartilhamento. Uma fraca energia que pode ser comparada a do clique descompromissado, mais para simpático do que para empático, numa rede social.