Janice Caron Nazareth
Cardiologista
Presidente do CoBi do Hospital Alemão Oswaldo Cruz
No passado, médicos eram considerados verdadeiros deuses, tanto por deterem conhecimento muito acima da população em geral, como pela magia em torno de suas figuras e atuação. Desse modo, as decisões, em relação aos tratamentos, eram de sua total escolha, de modo paternal e unilateral.
Vários fatores contribuem para que, hoje, muitos médicos hesitem nas tomadas de decisões, protelando-as ou delegando-as para pacientes e familiares:
- O vasto conhecimento decorrente dos meios de comunicação permite o acesso dos leigos aos mecanismos e tratamentos das doenças, sem lhes dar o domínio total dos mesmos, assim como os coloca às claras com seus direitos;
- A autonomia, embora muito diferente nos diversos países, tem sido mais observada;
- O avanço científico tornou muitos médicos mais frios e distantes do cuidado propriamente dito, carecendo de compaixão;
- As diretrizes são, muitas vezes, seguidas de maneira irracional e usadas pelos planos de saúde como pressão sobre a classe médica, cuja imagem já vem chamuscada pela proliferação de profissionais mal preparados;
- Advogados incitam a população a processos contra médicos, trazendo à tona reais erros médicos, mas, também, outros infundados, acuando nossa classe.
O ideal é que todos os pacientes, assim como familiares próximos ou responsáveis, sejam orientados sobre as opções terapêuticas, de forma que possam ter a real compreensão das implicações que cada uma traz, com análise dos benefícios reais. Da mesma forma, o médico deverá ter em mente os desejos do paciente, respeitando suas determinações, vontades e sentimentos, que podem ser totalmente distintos conforme sua trajetória e momento de vida, suas crenças e experiências prévias.
No tema Autonomia precisa ser referida à Medicina é essencial destacar como mensagem de vital importância que é dever do médico de ponderar as informações fornecidas por pacientes e familiares, devolver-lhes todos os dados técnicos necessários, para, só então, e junto a eles, tomar uma “decisão compartilhada”.