Leny Kyrillos
Fonoaudióloga e especialista em voz
Comunicação é cada vez mais uma competência super valorizada. Vivemos um tempo em que fazer bem, entregar resultados é o esperado… Mas não o suficiente! Precisamos saber falar sobre o que fazemos!
Comunicação é uma situação que envolve risco. Muitas vezes geramos mal entendidos! Comunicação não é o que sai da nossa boca, é o que chega aos ouvidos do nosso interlocutor! E este “caminho do meio” pressupõe uma série de variáveis, que interferem no processo e podem determinar o sucesso ou o insucesso na transmissão da mensagem.
Quando nos comunicamos, nós construímos percepção. Este fato é bastante importante, especialmente por três razões: ocorre de forma inconsciente, já nos primeiros segundo de contato… E gera reação. Imagine você chegando mais cedo e se sentando na primeira fileira da platéia, ansioso para a assistir a palestra daquele profissional bacana, sobre quem você ouviu falar tão bem. Depois de alguns minutos, sobe ao palco um sujeito “encurvado”, olhando para o chão, esfregando as mãos. Ao falar, ele praticamente não abre a boca, usa uma intensidade fraquinha, fala “para dentro”. Você rapidamente identifica o seu desconforto, associa à falta de segurança, de conhecimento… E rapidamente reage desviando a sua atenção para qualquer coisa que não seja a fala do palestrante! Parece familiar? Reagimos aos comportamentos das pessoas, a essa construção de percepção, o tempo todo! Quais são as reações que você mais identifica nos seus interlocutores? Como isso acontece?
Nossa fala é produzida a partir de um processo muito simples. O ar que vem dos pulmões passa pela laringe, vibra as pregas vocais, e produzimos nesse local um som bastante débil, que se amplifica nas três principais caixas de ressonância, a laringe, a boca e o nariz, preferencialmente de modo equilibrado. Este som é finalmente articulado na boca, com a utilização de lábios, língua, bochechas… Apesar de se tratar de um processo simples, ele pode ser produzido a partir de várias possibilidades de ajuste. O que ocorre é que num determinado momento, cada um de nós fez uma “escolha”, entre aspas porque é inconsciente, de um determinado padrão, que passa a nos representar.
Essa tal “escolha” é influenciada por três dimensões da nossa vida: física, psicoemocional e sociocultural. A dimensão física diz respeito à nossa estrutura corporal geral, e de modo mais específico àquilo que chamamos de “aparelho fonador”, região que compreende elementos do rosto e pescoço. Geralmente corpos maiores produzem vozes mais graves, e mais delgados, vozes mais agudas, numa analogia bem didática com o som produzido por um violoncelo e um violino. Fatores psicoemocionais tem a ver com características de personalidade, e com o momento emocional que vivemos.
É muito comum identificarmos a voz forte do mandão, a suave da pessoa doce, o tremor na voz de quem está inseguro ao apresentar o projeto ao chefe… Fatores socioculturais tem a ver com todo o nosso entorno, com pessoas que foram significativas ou referências para nós: os pais, professores, aquele tio querido, os gurus… De modo absolutamente inconsciente para nós e para eles, todas essas pessoas ajudam a construir a nossa comunicação. A combinação desses três fatores – físicos, psicoemocionais e socioculturais–é tão particular para cada um de nós que não existe uma voz igual a outra: ela é única como nossa impressão digital. A influência deles é tão grande que muitas vezes podemos imaginar de modo muito próximo da realidade como uma pessoa é só ao ouvi-la falar!
Conscientes disso, é importante buscarmos identificar qual é a percepção que geramos, quais reações provocamos nas pessoas ao nosso redor. A fala é um comportamento aprendido, e assim passível de mudança. Observe-se com atenção! Ouça os retornos das pessoas que você confia. E busque promover as mudanças que vão passar a te mostrar para o mundo da forma com que você realmente se identifica! Vale a pena.